Os desastres climáticos têm-se tornado uma realidade cada vez mais presente em diversas partes do mundo, e a recente tragédia em Valencia é um exemplo claro dessa crise global. Não quer isto dizer que a cidade nunca tenha tido problemas desta na natureza em toda a sua história, mas sim que a intensidade e os impactes desses desastres são cada vez maiores.
As inundações devastadoras que atingiram a região não são um fenómeno isolado, uma vez que existem fenómenos semelhantes, mais frequentes e mais intensos em várias partes do mundo, como o continente africano, onde países como Somália, Madagáscar, Moçambique, entre outros, enfrentam secas severas, inundações e tempestades. Essa interconexão revela não apenas a fragilidade dos ecossistemas, mas também a vulnerabilidade económica das comunidades.
A economia de Valencia, assim como a de muitas regiões africanas, é também dependente da agricultura. Quando desastres climáticos ocorrem, as colheitas são destruídas, levando a perdas económicas significativas. Em Valencia, os agricultores locais enfrentam a dura realidade de ver as suas plantações submersas, enquanto o turismo, que é uma fonte vital de receita, sofre com a destruição das infraestruturas e a diminuição do fluxo de visitantes. Essa situação não é diferente em África, onde a insegurança alimentar e a pobreza são exacerbadas por desastres naturais que destroem os meios de subsistência.
A interdependência entre os desastres climáticos em Valencia e África é um reflexo de um sistema climático global em crise. A degradação ambiental não respeita fronteiras; os efeitos das mudanças climáticas impactam todo o planeta, afetando a segurança alimentar, a saúde e a estabilidade económica.
Investimentos em infraestruturas resilientes e políticas de adaptação são essenciais para enfrentar esses desafios. Na Europa, temo-nos focado nas políticas de mitigação, ou seja, em baixar as emissões de CO2, uma ação fundamental para que os desastres climático não aumentem exponencialmente num futuro próximo.
No entanto, e como temos visto nos últimos dois anos, o facto de a temperatura mundial já ter, talvez, aumentado 1,5ºC face a 1800, tem levado à ocorrência de variadíssimos desastres climáticos por toda a Europa. Assim, é fundamental também desenvolverem-se políticas de adaptação climática que tenham em conta a importância de limitar o impacte climático nas atividades económicas dos países europeus.
A grande questão prende-se com este aspeto: quem vai pagar a implementação destas medidas de adaptação? Não tenho grandes dúvidas que terá de ser o setor público numa fase inicial, devendo também criar um enquadramento institucional que possa criar estímulos ao setor privado, a fim de se encontrar um modelo de negócio associado às práticas e investimentos em adaptação.
Investir em adaptação implica investir hoje para diminuir as perdas futuras. E na economia, gestão e finanças essa é uma abordagem que não é trabalhada nem ensinada. Tem-se identificado que esse tipo de matérias cabem naquilo que são as funções do Estado. Mas agora, o Estado não pode aumentar a sua despesa, devido a restrições impostas num contexto que já não é o existente.
Tudo isto deveria pôr os governantes portugueses a pensar como podem, desde já, proteger empresas e famílias dos danos futuros que vamos ter, e como se pode, desde já, criar um fundo que permita realizar os investimentos de adaptação e de recuperação dos danos que todos vamos sofrer.