Donald Trump não terá um plano para destruir os aliados dos EUA, mas como líder transacional não se preocupa com eles, antes aborda todos os dossiês tentando fazer deals.
No seu primeiro mandato impôs tarifas sobre a importação de bens intermédios e finais como o aço, alumínio, máquinas de lavar, painéis solares, sendo, segundo a Tax Foundation, aplicadas tarifas a cerca de 380 mil milhões de dólares de importações, com a China como principal alvo, com tarifas de 25%, quer sobre bens intermédios que as empresas americanas usavam, quer sobre bens de consumo final, levando a deslocalizações de produtores chineses e de americanos instalados na China para o Vietname, Camboja e México, países que aumentaram a sua importância nas Cadeias de Valor Global.
Agora ameaçou com um incremento de 60% nas tarifas à China, mas acabou por impor um aumento de 10%, que se vai adicionar à média de 10% que já estava em vigor.
Mais chocante ainda foi a ameaça de taxas de 25% ao México e Canadá, parceiros dos EUA na zona de comércio livre USMCA, negociada por ele no primeiro mandato para substituir a NAFTA, constituindo uma flagrante violação dos acordos que ele próprio tinha assinado e que podem pôr em causa as cadeias de valor que se formaram nesse grande espaço económico, com a consequente quebra de fornecimento de componentes às empresas americanas! Aguardam-se as tarifas à Europa.
Com Trump nunca se sabe se as tarifas são apenas um instrumento económico protecionista, ou se são uma arma para sacar concessões noutras áreas, como já terá acontecido com a Colômbia, México e Canadá. Seja como for, as retaliações dos países abrangidos já começaram.
Pesadas tarifas a um país, reduzindo as suas exportações, levam a uma menor procura da sua moeda, com a consequente depreciação cambial em relação ao dólar, o que pode anular total ou parcialmente o efeito tarifário, sendo preferível tarifas seletivas em domínios económica e militarmente sensíveis para os EUA.
Mas essas tarifas seletivas não serão suficientes para substituir produção externa por produção americana, têm de ser complementadas, como Biden fez, quer por uma política industrial dirigida a esses setores, quer com a proibição de exportações de chips para a China, para tentar travar a cópia e o seu correspondente avanço nos semicondutores. Fala-se muito em tarifas, mas esquece-se esta poderosa arma que tem travado o avanço chinês.