Johanna Kyrklund, Chief Investment Officer do grupo Schroders, partilhou a sua perspetiva sobre os mercados face às significativas alterações nas tarifas e à volatilidade do mercado. Segundo a especialista, “As tarifas de Trump são apenas um jogo; investidores de longo prazo devem manter a calma”.
“Tivemos um início de ano dramático: a disrupção da narrativa da inteligência artificial (IA) provocada pelo DeepSeek, uma mudança radical nos gastos de defesa e infraestruturas da Alemanha e, claro, o Dia da Libertação”, escreve Johanna Kyrklund.
“Como resultado, assistimos inicialmente a uma divergência significativa no desempenho entre e dentro das classes de ativos e, mais recentemente, a uma correção severa. Como sempre, precisamos de dar um passo atrás para ganhar alguma perspetiva”, acrescenta.
A CIO da gestora de ativos britânica diz que “isto pode parecer uma combinação caótica de acontecimentos, mas, na verdade, é tudo sintoma da grande mudança de consenso político”.
Sobre o Presidente Trump a gestora diz que “tem sido claro sobre as suas opiniões sobre o comércio internacional há muitos anos. Podemos não gostar da sua estrutura e filosofia, mas as suas políticas têm sido consistentes”.
“Certamente, o discurso inicial de Trump aponta para tarifas mais elevadas do que esperávamos. As nossas previsões económicas estão a ser ajustadas em baixa e o risco de recessão tem aumentado à medida que as empresas lidam com a perturbação das suas cadeias de abastecimento”, refere a CIO.
“Agora, a reação do resto do mundo será crucial e está a acontecer em tempo real. Os países na lista de tarifas estão a tomar decisões para retaliar e intensificar a guerra comercial ou contemplar a redução do desequilíbrio comercial com os EUA. O tempo que isso levará também será importante para os mercados. Mas temos de nos lembrar que o que os mercados mais detestam é a incerteza; as más notícias podem ter um preço”, acrescenta a especialista.
Os Estados Unidos “ao aplicarem o princípio de impor 50% da taxa calculada, estabeleceram um ponto de partida claro para a negociação”, realça. “Estamos a começar a perceber as regras e os mercados têm uma base para precificar estes riscos”, acrescenta.
A Schroders defende que “estamos a passar rapidamente de riscos desconhecidos para riscos analisáveis”.
“Para além das negociações comerciais, os mercados serão também impulsionados pelas respostas fiscais e monetárias ao crescimento mais fraco. A administração Trump continua empenhada com cortes de impostos e a libertação do travão da dívida na Alemanha é útil. Da mesma forma, a liderança chinesa está a considerar medidas para estimular o consumidor”, refere a analista.
As políticas monetárias também podem ser mais divergentes. “As tarifas são geralmente deflacionárias para a Europa, pelo que esperamos que os cortes das taxas sejam acelerados aí. A situação é mais complexa nos EUA devido aos impactos inflacionistas a curto prazo dos preços mais elevados das importações, pelo que esperamos que a Reserva Federal seja mais lenta”, acrescenta Johanna Kyrklund, Group Chief Investment Officer.
“Vemos isto como parte de um reset 3D de desglobalização, demografia e descarbonização. Passámos de um regime globalizado com choques deflacionistas dos anos 2010 para um regime desglobalizado com choques inflacionistas”, defende.
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