Eu gosto de anúncios publicitários desde sempre, desde que me lembro de ver televisão pelo menos. Nasci nos anos 80, portanto lembro-me de alguns icónicos: a sensação de viver da Coca-Cola, o coelhinho que ia com o Pai Natal e o palhaço no comboio ao circo, o ‘tou sim’ da Telecel, a famosa termotebe que tirava o frio a todos, do nascer do sol com Nescafé, do viver a vida com Mocambo, do grito de Tarzan do Nestum, e por aí fora.

Reparo hoje, que tenho um filho, que nos anúncios televisivos para crianças as marcas ora são grandes investidoras com anúncios fantásticos, ora não, com anúncios que existem há décadas e não são atualizados. Mas o que me choca é a nova relação promíscua e por vezes verdadeiramente má que as marcas têm com as telenovelas, em pleno ano 2017.

Foi uma grande descoberta, sem dúvida. Sobretudo para as estações de televisão que perderam uma grande parte de volume de dinheiro em publicidade, seja porque os valores baixaram, e muito, seja porque as marcas também investem cada vez menos ou têm mais meios para distribuir o dinheiro em publicidade.

O problema é que, por vezes, mais parecem anúncios dos anos 60, de tão maus que são. Não que os anúncios dos anos 60 fossem maus, naquela época. Hoje são, pelo menos, ultrapassados.  Não vivemos numa era de dois ou três canais, e somos hoje muito mais informados sobre tudo. Escolhemos o que queremos ver e o que nos interessa e já não vamos em cantigas. Isso é obviamente um desafio para as marcas, verdade, mas também uma seleção natural: quem é bom resiste, quem é fraco fica pelo caminho.

O que me incomoda e faz cócegas é termos marcas das boas, destas que resistem, a dar tiros no pé quando decidem fazer o que muitos chamam de ‘product placement’, outros de ‘soft sponsoring’ , e a fazê-lo mal.

Meus senhores, por favor não coloquem pessoas sorridentes, com ar estático viradas para uma câmara a tentar vender o vosso produto, ok?! É que dá a sensação que estão a gozar com quem está do outro lado, ou a tentar fazer um sketch de humor. Não funciona, nem pela parvoíce de provocar o riso, garanto. E sendo marcas das boas e das grandes ainda pior, porque o consumidor não está habituado a esse tipo de tratamento e vai estranhar. Acho especialmente curioso quando duas personagens, que na história da telenovela não se dão, aparecem felizes e contentes a vender qualquer coisinha no intervalo. Enfim…

Melhorámos muito, é verdade. Se olharmos para o início deste tipo de ações em Portugal fizemos um caminho interessante e  aperfeiçoado. Mas caímos no exagero. É que por vezes o soft sponsoring não tem nada de soft e chega a ser tão brusco que nem aos mais velhos passa despercebido. Vejo a minha avó muitas vezes reclamar não só do excesso de anúncios como até dos constantes separadores para fazer as telenovelas durar mais tempo.

Talvez fosse altura de começarmos a olhar para o que se faz lá fora e bem, e ver umas quantas séries internacionais. E perceber que a quantidade tem de ser reduzida e a qualidade melhorada. Por vezes basta uma imagem breve, tão-só.