O presidente do Chega andou a negociar o Orçamento do Estado e aceitou sair pela porta das traseiras. O facto não precisa de explicação. O Chega tem 50 deputados, recebe críticas de todo o género e calibre, mas a verdade é que tem espaço na democracia portuguesa, porque a insatisfação, mesmo que infundada, tem a marca das turbulentas e turvas águas das sociedades modernas. O extraordinário deste grotesco episódio é ter sido o primeiro-ministro a pedir essa fuga pelas traseiras a Ventura – e o mais espantoso ainda é o altivo e tonitruante Ventura, sempre de peito aberto, ter aceitado dobrar a espinha para ver se recebia algumas côdeas. Convém esclarecer que Montenegro não confirmou a bizarria, mas ela ficou no ar transmitindo a pobre ideia de que S. Bento é capaz de usar métodos tão pouco saudáveis ou, em alternativa, que um político como o inefável Ventura mente com todos os dentes. O que me conduz ao ponto final: na semana passada tivemos o congresso do PSD e falou-se muito de segurança e de imigração, temas vitais que não são de direita nem de esquerda. Confundir hoje estes dois assuntos é um erro, embora no futuro possa nunca chegar a sê-lo se (se…) Portugal se revelar capaz de acolher os imigrantes com a importância que eles têm, como qualquer pessoa. Criar centros de detenção e deportação na Albânia, como quer Meloni, aplaudida por Von der Leyen, é um ultraje à humanidade e à nobreza e missão da política. A imigração pode – ainda não o é – tornar-se um problema. Se a ideia do PSD é tão-só ocupar as poças lamacentas do Chega, então é um fraco propósito que não levará a nada. Se a ideia é colonizar o CDS, o primeiro-ministro que perceba que os democratas-cristãos, se forem coerentes e consequentes, terão ideias mais bem pensadas, mais humanas e católicas para este assunto de complexidade máxima.