A semana passada, foi notícia o facto de a CNN ter repetido que Lisboa bem pode ser a cidade mais cool da Europa. E por cool entenda-se “fixe”, não fresca. O canal televisivo elenca sete explicações para esta eleição e a primeira delas é a vida nocturna. Não, não são os miradouros, nem o castelo, nem as ruas de Alfama os escolhidos para começar, são os bares do Bairro Alto e do Cais Sodré e as discotecas. Os mesmos que são factor de atracção para um segmento que muita gente defende não interessar atrair, o do turismo jovem. Infelizmente, episódios como o ocorrido em Espanha, em que estudantes portugueses interpretaram Spring Break como “partir coisas na Primavera”, reforçam esta convicção. Ironicamente, a palavra turismo tem a sua génese em Grand Tour, a expressão francesa usada para designar o passeio educacional que, a partir do século XVII, os jovens aristocratas ingleses faziam ao continente europeu para completar a sua formação.

No século XXI, o relatório da Organização Mundial de Turismo sobre turismo jovem mostra-nos que este não é um segmento a negligenciar e que, em média, os jovens não gastam menos dinheiro que os turistas de outras faixas etárias. Têm estadas mais longas, pelo que deixam mais dinheiro no total e mais directamente nas comunidades onde ficam. Por outro lado, as suas decisões de viajar tendem a reagir menos a fenómenos como surtos epidemiológicos ou ataques terroristas, eventos que são geradores de choques na procura. São clientes menos volúveis, que, evidenciam alguns estudos, não seguem o lema de não regressar onde se foi feliz.

Quando há uns meses o João Pedro Pincha quis conversar comigo para tentar responder à questão “O turismo low cost está a estragar Lisboa?”, disse-lhe precisamente que opções de baixo custo não eram sinónimo de baixo retorno para o destino. E defendi que Portugal e Lisboa em particular têm dimensão suficiente para acolher vários tipos de turista, incluindo os jovens. Uma posição que reafirmei há uns dias quando, em reacção ao meu artigo sobre alojamento local, tive quem dissesse que os hostels eram “um modelo de alojamento absolutamente contrário à qualificação da oferta”. O estudo de Greg Richards sobre o tema contraria esta noção, afirmando que aquelas unidades hoteleiras se têm vindo a reinventar, a procurar oferecer mais valor e que se constituem, inclusivamente, como locais de encontros culturais e actividades várias, promovendo a interacção entre visitante e visitados.

De resto, uma parte significativa dos jovens turistas não anda pelo mundo em busca de copos e mulheres, mas sim para conhecer outras culturas, naquilo que corresponde até à descrição do viajante sofisticado. Aliás, o segmento do turismo jovem divide-se em vários segmentos, como discutem, por exemplo, as investigadoras Celeste Eusébio e Maria João Carneiro, e dificilmente se poderá enfiar na designação comum e pouco lisonjeira de “mochileiro”.

A autora escreve segundo a antiga ortografia.

 

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