O Orçamento do Estado para 2022 que entrou este mês na Assembleia da República, será votado na generalidade no próximo dia 27, e só depois de aprovado entrará na fase de discussão na especialidade.

Haverá ainda lugar a várias audições na Comissão Parlamentar de Finanças, da qual faço parte, onde se questionarão, individualmente, em comissão todos os 19 ministros do Governo (o maior de sempre da democracia), a Associação Nacional de Freguesias e dos Municípios de Portugal, o Conselho Económico e Social e o das Finanças Públicas. Um processo participado, onde tradicionalmente serão também ouvidas dezenas de entidades e sindicatos, que querem manifestar as suas opiniões junto dos Grupos Parlamentares e Partidos Políticos.

Após estas audições, os partidos efetuarão as propostas de alteração. Nos últimos anos, e no global, foram mais de um milhar, sendo que habitualmente os partidos de esquerda – apesar de terem viabilizado no passado o documento na generalidade e até componham a denominada geringonça – representam mais de dois terços destas tentativas de alteração, sempre numa tentativa de teatralizar o palco político.

Advinha-se que nessa fase orçamental, o menu seja repetido e de escolha variada, com os temas do trabalho e precariedade, os salários ou as retribuições, entre muitas outras, com mais ou menos relevância.

Mas, na verdade, o que mais nos preocupa a todos é o aumento exponencial de impostos, nomeadamente indiretos, com que o PS tem brindado os portugueses desde há seis anos, quando começou a governar sem mandato do povo. E nesta matéria de impostos (receitas do Estado), pouco costuma surgir da esquerda, para tentar alterar o estado das coisas.

Apesar de o ministro Leão afirmar que não está previsto um aumento de impostos, e se disfarçar o pagamento com a criação de mais escalões, o que temos assistido nos últimos dias é à tradicional ameaça de ‘contrariar’ dos partidos políticos da esquerda, com os avisos de que irão chumbar o orçamento, antes mesmo de se chegar às propostas de alteração.

Na verdade, a crise política existe, pois todos estão cientes de que, mesmo antes da pandemia não existia consolidação orçamental no país e que a carga fiscal para 2022 é “ainda maior” do que a prevista pelo Governo, sendo que vai situar-se sempre em máximo do PIB, que continua insustentavelmente no “patamar mais elevado da história recente de Portugal”.

Ou seja, com ou sem bazuca, o recurso e fórmula do Governo é sempre o mesmo: mais e mais impostos, sem consolidação, sem reformas estruturais, sem diminuir o endividamento público, agravando-o com uma preocupante degradação das nossas contas externas (a balança comercial inverteu e passou a ter saldo negativo) e a destruição por falta de investimento dos nossos serviços públicos.

Assim não, mas parece-me que os socialistas assobiam para o lado, num constante ilusionismo da política do faz de conta. Depois de tantos esforços com a intervenção externa, depois de tanto sacrifício com a pandemia, definitivamente, merecíamos muito melhor. Mas não… não será por este motivo que a esquerda pode vir a chumbar o Orçamento, que a acontecer mergulhará o país numa crise política, mas sim e apenas um jogo tático com o Partido Socialista. Para a semana veremos.