Agora que EUA e China crescem à mesma taxa, 4,9% num ano, mas com os EUA a registarem 2% no trimestre contra 0,2% da China, e a zona euro progride a um robusto 3,7% em termos anuais e 2,2% no trimestre, estamos ao momento da verdade da política monetária.
Os americanos têm vantagem: Powell sempre tornou clara a direção da Reserva Federal (Fed), e já começou a fazer o phasing out do quantitative easing, que irá arrastar-se até meados do ano que vem. Por detrás está a subida da inflação nos EUA, que em outubro acelerou para 6,2% (era 5,4% em setembro), a taxa mais alta desde novembro de 1990, muito acima da previsão de 5,8%. A core inflation é 4,6%, puxada por salários e preços do imobiliário. Afinal a inflação transitória não é tão transitória como se pensava – citando Bill Bonner, em 2000 anos de história os problemas de supply chain nunca foram tão referidos.
Esta coerência contrasta com os congéneres europeus. Andrew Bailey, governador do Banco de Inglaterra, manteve a taxa de juro em 0,1%, o nível mais baixo em três séculos, depois de ter dito há um mês que era necessário agir. Especula-se que a principal razão é evitar um problema de finanças públicas: cada 1% de subida dos juros custa 25 mil milhões de libras por ano ao Tesouro britânico. Isto valeu-lhe a alcunha de Andrew Bailout. Chistine Lagarde está a ser atacada particularmente na Alemanha, cuja taxa de inflação subiu em outubro de 4,1% para 4,6%, um recorde de 30 anos; já foi batizada Madame Inflação.
O perigo está nisto se transmitir aos salários, agora que estamos em final de ano, e o regresso da inflação se transformar numa self-fufilling prophecy. E até na Europa de Leste os preços estão a subir rapidamente: 8% na Roménia, 6,8% na Polónia, 6,5% na Hungria, 5,8% na República Checa. Aqui a principal razão é a penúria de mão de obra, com taxas de desemprego extraordinariamente baixas: 2,6% na República Checa, 3,4% na Polónia, 3,6% na Hungria, 3,9% na Eslovénia – os salários puxam a inflação, precisamente o que temem os alemães.
Estamos na altura de os bancos centrais deixarem de salvar o mundo e começarem a fazer o seu trabalho normal. Ou seja, deixarem de fazer o trabalho de Deus, para não haver um novo dilúvio, não da mesma liquidez. Christian Sewing, CEO do Deustche Bank dizia segunda-feira numa conferência em Frankfurt (até parece provocação) que acabou a cura dos últimos anos, juros baixos e aparentemente baixa inflação, é tempo de mudar e quanto mais cedo melhor.
Lagarde dizia, no mesmo dia, que em 2022 as condições para subir a taxa de juro não vão ser verificadas. Richard Clarida, vice-presidente da Fed, afirmava há uma semana que se as condições económicas continuarem a evoluir como estão, as taxas subiriam para o ano. Não podem estar todos certos. Claro que Lagarde poderá sempre dizer que, se obrigada, fará “whatever it takes”.