Refiro-me frequentemente a riqueza ou enriquecimento, exatamente pelo que isso pressupõe – o que se tem hoje, e um dia ter mais que hoje.

Ser uma pessoa rica pressupõe ter mais do que o necessário para viver adequadamente, ainda que este termo seja algo vago. Tendo mais que o necessário para viver, o rico pode poupar, pode fazer alguns investimentos como comprar a sua própria casa sem ter de a pagar durante 30 ou 40 anos. O rico pode comprar um automóvel e pagar confortavelmente os estudos dos seus filhos. O rico pode fazer uma viagem diferente, diferente e merecida porque passa 11 meses do ano enfiado numa empresa, numa região, num ambiente familiar rotineiro em que o principal desígnio é fazer acontecer, cuidar, garantir e ser previsível.

As pessoas merecem enriquecer continuamente para terem um alívio de tensão mental relativamente às condições de vida. Ser rico para acordar todos os dias sem se preocupar com o que pode controlar e não controlar, sendo que a materialidade deve ser algo de controlável.

As pessoas não podem controlar o destino das suas vidas nem conseguem controlar a sua saúde porque tudo pode suceder a qualquer instante, porém, devem conseguir ter controlo sobre as suas despesas correntes e compromissos económicos.

Conseguindo ter um rendimento que esteja acima disso tudo, isto é, se as pessoas tiverem um rendimento anual que lhes permita acordar todos os dias com uma sensação de segurança face à materialidade da vida, passariam a olhar o dia-a-dia com outros valores!

Será que tudo o que referi atrás é algo assim tão extraordinário que só poderá estar ao alcance dos “manifestamente ricos”? Claro que não. Tudo o que referi é perfeitamente normal e ao alcance de uma sociedade como a nossa. Os portugueses podem ser mais ricos, podem ter mais riqueza ao ponto de sentirem que não só a vida vale a pena como vale a pena vivê-la neste país.

Somos um país seguro, agradável, com belíssimas infraestruturas. Somos um país que atrai visitantes, turistas, famílias de outros mundos, mas, no essencial, debatemo-nos com um problema estrutural – somos tendencialmente pobres!

E por que razão somos tendencialmente pobres?

Porque os Governos da República estão a gerir-nos sem causas, sem rumo, sem objetivos estratégicos e tudo fazem numa ótica de curto prazo, de eleições e conquista de poder.
Não é sustentável e chega a ser ridículo, ter famílias com rendimentos próximos ou comparáveis com o salário mínimo, e alvo de aumentos anuais iguais à inflação.

Quem está nas empresas sabe que o grosso da força laboral, os que têm salários mais baixos, são alvo de atualizações salariais na ordem da inflação. Portanto, se a inflação for de 2%, os empresários vão usar a famosa justificação – aumentar os salários em 2% é garantir o poder de compra.

Que poder de compra? Garantir o poder de compra de quem não o tem ou está “no fio da navalha”? Os aumentos salariais deveriam ser claramente acima da inflação para permitirem a tal folga a que me referi no início e possibilitar que as famílias possam ser mais ricas, investindo e poupando. O crescimento do rendimento anual das pessoas tem de ser acima da inflação!

Para isso, é preciso que os portugueses parem de alimentar um Estado caríssimo. Pagam-se imensos impostos, essencialmente no domínio do IVA, IRS, IRC e TSU, porque o Estado é muito caro. Muito caro e muito endividado. Se o Estado fosse uma empresa estava tecnicamente próximo da falência. Não poderia viver anos e anos nesta dependência da contribuição dos portugueses.

O Estado Português tem de se tornar mais leve para que necessite de menos impostos, menos contribuições das pessoas e empresas, permitindo que fique mais dinheiro nas contas pessoais dos próprios portugueses. Se temos de pagar tantos encargos, se as empresas têm de pagar tantos impostos, tantas taxas, como poderá ficar mais dinheiro para os trabalhadores portugueses?

Impossível. Assim é praticamente impossível o enriquecimento dos portugueses. Não nos iludamos com um amanhã melhor que hoje se formos geridos nos mesmos pressupostos.