[weglot_switcher]

Astellas Pharma quer aumentar ensaios clínicos em Portugal

Empresa tem crescido cerca de 6% em Portugal e quer continuar a expandir-se num mercado que o seu diretor-geral considera ter particularidades próprias, algumas delas negativas, como a imprevisibilidade.
Foto cedida
14 Novembro 2017, 07h00

Nascida a fusão, em 2005, das empresas Yamanouchi e Fujisawa, a Astellas Pharma é a segunda maior empresa farmacêutica no Japão e a 17ª maior empresa farmacêutica a nível mundial, empregando mais de 17 mil pessoas, globalmente. Em Portugal, a companhia estabeleceu as suas operações em 1967, com a designação de Gist Brocades; uma designação que seria alterada em 1991 para Brocades Pharma e, de novo em 1994, para Yamanouchi Pharma, antes de se tonar Astellas Portugal. Atualmente conta com cerca de 50 colaboradores, a que se junta um conjunto de consultores, que intervêm em projetos específicos levados a cabo pela companhia.

“A Astellas é uma companhia global, focada no desenvolvimento de novos medicamentos que respondam a necessidades médicas ainda não satisfeitas”, começa por explicar Filipe Novais, diretor-geral da Astellas Portugal, em declarações ao Jornal Económico. “As operações globais estão estruturadas em três grandes áreas geográficas: Japão e Ásia; Europa, Médio Oriente e África; e Américas, acrescenta”.

Em termos de evolução das vendas globais, a Astellas mantém um crescimento médio anual próximo dos 6%, um ritmo de expansão superior à média do setor. Este desempenho é acompanhado pela filial portuguesa, mesmo com as dificuldades de acesso ao mercado – particularmente no que respeita à concessão de comparticipação – que marcam o panorama nacional.

Imprevisibilidade portuguesa

“O mercado português corresponde apenas a cerca de 2% do mercado europeu”, aponta Filipe Novais. “Portugal apresenta particularidades que o distinguem dos demais mercados europeus. Uma dessas singularidades, a falta de previsibilidade, é um dos principais problemas que as empresas farmacêuticas – e também as dos demais setores de atividade – que atuam no nosso país, têm de enfrentar. É uma entropia que dificulta qualquer tipo de planeamento que se pretenda fazer”, acentua o gestor.

Oncologia, transplantação, urologia e infeciologia são as principais áreas terapêuticas alvo de Investigação e desenvolvimento (I&D) por parte da Astellas. Em termos de vendas, a empresa conta com três produtos “core”: na área da oncologia, no tratamento do cancro da próstata. “Trata-se de um medicamento com um impacto muito positivo na qualidade de vida destes doentes”, destaca Filipe Novais, que aponta as outras “estrelas da companhia: “Um medicamento na área da transplantação – em que a Astellas é também líder mundial e finalmente um conjunto de medicamentos na área da urologia, onde também somos líderes mundiais, de entre os quais se destaca um fármaco indicado no tratamento da bexiga hiperativa, condição muito subdiagnosticada que afeta dezenas milhares de mulheres, com um impacto muito negativo na sua qualidade de vida”, concretiza. Trata-se de um medicamento que embora não seja comparticipado pelo SNS, é muito utilizado, devido aos excelentes resultados que permite alcançar”, destaca Filipe Novais.

Ensaios clínicos em Portugal

Como não podia deixar de ser, numa companhia farmacêutica global, a Investigação e Desenvolvimento de novos produtos ocupa uma parte muito importante dos recursos humanos e investimento da Astellas. “Uma companhia como a Astellas só sobrevive e cresce se apostar fortemente na I&D”, refere Filipe Novais. Esta é uma vertente que também se realiza em Portugal, onde a empresa tem neste momento a decorrer, em diferentes hospitais do país, alguns ensaios clínicos de fase 3.

A realização, em Portugal, de ensaios clínicos, assume particular relevância, também, por ser uma área em que a concorrência internacional é muito forte, “o que traduz uma melhoria muito significativa da realidade portuguesa em termos de processos e a qualidade dos profissionais de saúde envolvidos. Temos hoje profissionais muito bem qualificados, reconhecidos internacionalmente”, salienta.

Ainda em sede de I&D, Filipe Novais destaca o muito promissor pipeline da Astellas, de onde se destacam quatro medicamentos em fase III (pré-marketing), que a empresa conta colocar no mercado dentro de dois anos. Um deles, indicado no tratamento da anemia em doença renal crónica, uma nova área em que a Astellas decidiu apostar. “Trata-se de um medicamento inovador, uma nova classe terapêutica e que terá, seguramente, um grande impacto no tratamento destes doentes”, assegura o responsável. Para o curto prazo serão ainda lançados dois medicamentos oncológicos, um deles, indicado no tratamento do cancro gástrico, uma área em que os recursos terapêuticos atualmente disponíveis são muito escassos. “Pensamos que dadas a necessidades não satisfeitas nesta área terapêutica, e os excelentes resultados dos ensaios clínicos já realizados, o novo medicamento poderá ser alvo de uma aprovação mais célere”, revela.

Até 2019, será também lançado um medicamento indicado no tratamento da leucemia mielóide, um tipo de cancro particularmente agressivo e uma vacina inovadora, indicada na prevenção da infeção por citomegalovírus.

Filipe Novais está confiante de que será possível, nos próximos anos, aumentar o número de ensaios clínicos realizados em Portugal com produtos de investigação da Astellas. “Os ensaios clínicos são geridos de forma muito pragmática. Obedecem a um conjunto de regras muito restritas e ao mesmo tempo a timings muito apertados. A escolha de um país para acolher um ensaio clínico está associada à sua reputação nesta área”, diz.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.