Foi dado o tiro da partida para a corrida mais louca da Europa. Vindos de vários sentidos, os candidatos colocaram-se nos seus lugares, decididos a suceder ao “Président de la République”, numa eleição que mais parece uma peripécia do herói gaulês, Astérix. Os franceses aguardam o dia para colocar as malas de Hollande à frente do portão do Eliseu. As imagens do motard, portador de croissants, a correr ávido para o leito do seu affair, não foram, porém, o único motivo do descontentamento dos gauleses. As medidas de segurança (ou a falta delas), o terrorismo, os refugiados e a apática economia foram os temas fraturantes. Aproveitando o circo mundial de Trump, cinco candidatos à presidência do país das baguetes iniciaram o seu espetáculo de cabaré com vista às eleições.

Da líder da Frente Nacional, a Europa só pode ter… medo! Se Le Pen for eleita o “Frexit” é certo. Mostrando “ser filha do seu pai”, com dotes para o “parlapiê”, Marine opõe-se à imigração, defende a pena de morte e recusa os eurocratas – com o claim “a França em primeiro lugar”, um “dejá-vu” que nos recorda alguém. Acusada de desviar dinheiro para o seu partido enquanto eurodeputada, Le Pen tem dois alvos a abater: a globalização da economia e o fundamentalismo islâmico.

Perto de Le Pen, nas sondagens, estava até há pouco o “Fillet Mignon” dos candidatos: François “Fillon”. O candidato de Centro Direita revelou “ser marido da sua mulher e pai dos seus filhos” ao dar a estes um emprego fictício remunerado. No melhor “Fillon” cai a nódoa e as desculpas que veio a público dar não deverão ser suficientes para o candidato dos Republicanos conseguir avançar na corrida. Tem casos mal resolvidos com a homossexualidade, foi acusado de islamofobia e envolveu-se em polémicas sobre o processo de colonização em África. Os republicanos começam a ver que o homem que apregoava a redução dos gastos públicos e o corte nos empregos do Estado não é, afinal, o candidato perfeito.

O escândalo de Fillon abriu uma vaga para a exibição de Emmanuel Macron. Sem nenhum partido a servir-lhe de ponto, Macron saltou para o palco das eleições com o movimento “En Marche”. O antigo ministro de Valls pugna pelo avanço de França, embora preso ao slogan do passado. Sob o lema da revolução francesa, “Liberté, Egalité, Fraternité”, o jovem de 39 anos, casado com uma sua professora 20 anos mais velha, pugna pela liberalização do trabalho e pelo acolhimento de refugiados.

Para o candidato socialista, Benoît Hamon, o espetáculo foi mesmo o ter ultrapassado o seu ex-primeiro-ministro Manuel Valls. O ex-ministro da Educação não tem conseguido convencer os franceses das suas ideias de aplicar um rendimento básico universal aos jovens entre os 18 e os 25 anos, um salário mínimo europeu e de taxar os robôs inteligentes que põem fim a postos de trabalho. A ideia, “comme ci comme ça”, seria taxar as máquinas para dar uma vida melhor às pessoas. Com estes planos percebe-se porque quer também legalizar o consumo de canábis…

Enquanto a taxa dos robôs de Hamon não sai do plano das ideias, Jean-Luc Mélenchon auto-replica-se através de hologramas para chegar a mais pessoas nos comícios. O omnipresente candidato da Frente de Esquerda pretende convencer os franceses da necessidade de ter as fronteiras abertas, de abraçar o multiculturalismo e de dar mais valor à solidariedade e à cooperação.

Certo é que se o “Brexit” se concretizar e o “Frexit” for uma possibilidade, resta um “Germaintenance” apoiado numa “Desunião Europeia” composta por aliados e súbditos da Alemanha e em que o espetáculo burlesco continua no anfiteatro do Conselho Europeu, onde pode ser dado a Hollande o papel principal de Presidente!

Nem a poção mágica de Panoramix nos salva dos resultados de tal cenário. Onde estão os “obélixes” europeus capazes de resistir aos “exits” e de conduzir a Europa e Portugal aos “êxitos”? Se não cozinhar o seu caldeirão, a Europa arrisca-se mesmo a escrever o último livro da sua história.