Quem vencerá? Ninguém sabe. O modelo estatístico da “Economist” dava, até há uns dias, vantagem a Trump sobre Kamala. No momento em que escrevo este artigo, já os dá como empatados novamente.

Só em Portugal é que não faltam certezas. Se as eleições fossem por cá, a Democrata obteria uma vitória esmagadora, de 62% contra 28%. Com eleitores destes, tão esclarecidos, não entendo como é que o nosso país continua na cauda da Europa. Olhamos para os americanos como se fossem tontos, e para nós mesmos como se fôssemos iluminados. E nem nos apercebemos da nossa saloia presunção.

Estamos à beira de um confronto entre duas visões da América, o qual se prevê pouco pacífico. Trata-se de duas formas antagónicas que interpretar a própria Constituição e o espírito das leis, declarações e documentos assinados pelos Pais Fundadores. O mesmo se aplica à política externa, à guerra e ao papel que os EUA devem assumir no mundo. Mundo esse que, por sua vez, está em transformação, enquanto os BRICS tentam reunir os descontentes para construir uma ordem mundial alternativa.

Apenas este contexto justifica o impensável. Quem acharia possível, há 15 anos, ver derrotados a contestar resultados eleitorais, no país que mais apregoa a democracia? No entanto, desde 2016 que não vemos outra coisa. Hillary Clinton inventou a colisão russa para contestar a legitimidade de Trump. Já em 2020, foi Trump quem clamou: “Stop the count!”. E, agora, temos Nancy Pelosi a invocar a carta da insanidade, depois de ter comparado o Republicano a Hitler e Mussolini. Irão reconhecê-lo, caso vença?

O momento é conturbado, sem dúvida. Um quarto dos americanos temem uma guerra civil. Mas nem por isso os EUA deixaram de ser o que eram. Ainda teimam em crescer muito mais rapidamente que qualquer outro país desenvolvido. E perante qualquer crise em larga escala, insistem em recuperar mais depressa que o resto do globo. Desde o Covid que têm alcançado um crescimento real de aproximadamente 10% – três vezes superior ao da média do G7. Além disso, convém não esquecer, as dívidas continuam a ser pagas em dólares.

Portanto, quem vencerá: Trump ou Kamala? Por mim, até pode ganhar Trumpala. É como diz Buffett: Never bet against America. Mesmo que caia, recupera numa década. O mundo, não.