No meu último artigo, defendi a necessidade de distribuir melhor os turistas pelo país. O turismo contribui directa e indirectamente para o crescimento económico e para a criação de emprego, logo é essencial que não fique confinado a três regiões e antes seja promotor do desenvolvimento regional e da coesão territorial. Essa é, aliás, uma boa forma de evitar potenciais problemas de congestionamento. Além de enriquecer a própria experiência de quem nos visita.

Depois da tragédia dos incêndios de Domingo, acrescentaria uma quarta razão. Como escreveu Luís Aguiar-Conraria, seguindo os argumentos de Henrique Pereira dos Santos, “sem actividade económica que a explore não é razoável esperar que [a floresta] se mantenha limpa, como tantos exigem”; promover o turismo de natureza é uma maneira de valorizar o património florestal e de combater o abandono a que boa parte do país está vetada. Eça de Queiroz dizia que Portugal era Lisboa, sendo o resto paisagem. Eu digo que essa paisagem é digna de ser admirada, conhecida e visitada.

Um dos aspectos distintivos da actividade turística é precisamente a sua relação com o território: sapatos portugueses podem ser fabricados em muitos lugares do mundo, mas turismo em Portugal só pode ser produzido em Portugal. Isso é uma vantagem na medida em que não permite a deslocalização, mas constitui o óbvio desafio de ter de ser o consumidor a ser trazido ao produto e não o contrário. O desenvolvimento do turismo depende, assim, crucialmente do sector dos transportes.

A história do turismo em Portugal é disso testemunha. Por ocasião das Descobertas, Portugal é um dos centros mundiais de comércio e a Lisboa chegam muitos viajantes estrangeiros. Mas o país não integra o roteiro do Grand Tour. A má qualidade das vias de comunicação até meados do século XIX (por exemplo, Lisboa e Porto não tinham uma estrada que as ligasse) ajuda bastante a explicar esse facto. É com a Regeneração que se cria uma rede de transportes (estradas, caminho-de-ferro e barco a vapor) que tornou possível viajar em Portugal.

Mais tarde, o transporte aéreo contribuiu para a emergência de uma nova geografia do turismo em Portugal: a abertura do aeroporto de Faro, em 1965, colocou as praias do Algarve na bacia alargada do Mediterrâneo e trouxe um enorme volume de turistas estrangeiros. Deve ser a pensar neste exemplo que se quer um aeroporto em Monte Real. Ou que Manuel Machado prometeu um aeroporto em Coimbra, alegando que “Portugal tem falta de capacidade aeroportuária”, contrariando o relatório do Fórum Económico Mundial.

E a história ajuda. Em 1907, o primeiro cartaz turístico português tinha como slogan “Portugal: The shortest way between America and Europe” [Portugal: o caminho mais curto entre América e Europa]. Em 1917 e 1918, Lisboa era a Porta da Europa – o Cais do Atlântico; em 1940, no Programa Oficial das Comemorações dos Centenários, era o “novo cais da Europa, praia do ar do Ocidente”. Nunca aconteceu. Também os Açores não se afirmaram como destino turístico nos anos 30, apesar de Santa Maria ter assumido um papel importante nas ligações entre a América e a Europa, que eram feitas em hidroavião.

Para quem não quiser recuar tanto no tempo, pode ir até 2011, ano da inauguração do aeroporto de Beja: 33 milhões de euros, um investimento altamente compensador, que, no Plano Regional de Promoção Turística do Alentejo, ia ser “um dos mais fortes contributos para lançar o futuro turístico do Alentejo”. Não foi. Saibamos, pois, ser inteligentes na versão do ditado chinês: aprendendo com os próprios erros.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

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