Há menos de seis meses atrás, nove em cada dez estrelas da economia americana dizia que se estava a caminho de um hard landing, fruto do endurecimento da política monetária promovido pela Reserva Federal (Fed) dos EUA para controlar uma inflação que batia recordes de 40 anos.

Os 2,4% de crescimento anualizado de junho a par de uma taxa de desemprego de 3,5%, desde janeiro a rondar os níveis mais baixos em 50 anos, levou a que hoje são cada vez mais os agentes de mercado – agora foi a vez da JP Morgan – a dar o dito por não dito e admitir que os EUA não entrarão em recessão, o que constitui uma vitória para Powell & Cia.

Resta Nouriel Roubini, conhecido como Dr. Doom, que em setembro previa uma “long, ugly recession”, em março uma “severe recession” e em junho uma “short and shallow recession”. Isto ao mesmo tempo que a Fed aumenta a taxa de juro mais de 5 pontos percentuais e a taxa de inflação já caiu para 3%.

É difícil dizer que a situação não evoluiu mais favoravelmente que antecipado, e é pouco provável que a Fed aumente de novo os juros, havendo até quem vaticine que a meio do próximo ano estará a descê-los, aliás o que diz a FedWatch Tool da CME. Agora resta ainda ver se a política monetária já está completamente repercutida na economia – normalmente deveria levar quase um ano, o que implica esperar para ter certezas.

Mas a história ainda não acabou. Os salários crescem 4,4%, quase 1,5% em termos reais, e a inflação resiste a cair abaixo dos 2% – esta tem sido a principal incógnita dos últimos tempos: a que velocidade vai a inflação cair. Até aqui tem caído devagar, é verdade, quando as taxas de juro sobem e a Fed está em quantitative tapering, mas a política fiscal continua agressiva. Que se pode esperar quando a dívida pública aumenta um milhão de milhões de dólares num trimestre?

É extraordinário a dívida crescer assim quando a economia está em pleno emprego, altura em que os manuais nos dizem que se deve estar em excedente pelo funcionamento dos estabilizadores automáticos. Que aconteceria se os EUA entrassem mesmo em recessão?

Este ano o défice orçamental deverá ser da ordem dos 6% do PIB e, diz o Congressational Budget Office, em média 5,2 mil milhões de dólares por dia nos próximos 10 anos. É obra. Não tarda a Fed deslocará o seu olhar da inflação para a política fiscal. Ben Bernanke escreveu um capítulo novo nos manuais de política monetária com o quantitative easing, mas agora é toda uma nova secção de política económica que está a ser escrita.