Esta semana o Open Market Committee da FED reuniu e, se tudo se passou normalmente, manteve a taxa de juro (a probabilidade era de 95%, contra 5% de a descer). Tal irá valer a Powell mais uns quantos tweets pouco simpáticos de Trump. Durante o seu primeiro mandato e após nomear Powell, Trump publicou mais de 100 tweets pressionando-o e à FED a descer as taxas , entre eles o famoso “my only question is, who is our bigger enemy, Jay Powell or Chairman Xi?” de 23 de agosto de 2019, já na altura provocado pela guerra tarifária com a China.

Se quiser consultar os tweets de Trump, pode ir a thetrumparchive.com, que os lista até 24 novembro de 2024, mas prepare-se: são 80.356. Sexta-feira passada foi um “THE FED SHOULD LOWER ITS RATE!!!”, argumentando com a gasolina a 1.98 dólares o galão, que a AAA diz ser em média, na verdade, 3.18 dólares. Para Trump, contra argumentos não há factos.

A missão de Powell não é fácil. A criação de empregos em abril foi 177 mil, muito acima dos 130 mil projetados; a taxa de desemprego manteve-se em 4,2% apesar da taxa de participação aumentar; o preço do petróleo está a mínimos de quatro anos. Tudo coisas boas. Mas está por ver o impacto da política tarifária draconiana de Trump, adiada 90 dias (exceto China).

Ora, como nunca se sabe se o homem vai fazer o que diz, o anúncio provocou incerteza – o que, aliás, permite perceber as oscilações em Wall Street, que caiu em flecha para depois recuperar (subiu 10% em 9 sessões) e cair de novo este início de semana; também as importações aumentaram, em antecipação das tarifas. A prudência recomenda então que a FED se abstenha de agir antes de o contexto se tornar claro.

É pouco credível que as novas tarifas sejam postas em prática como anunciadas – o Presidente vai reduzi-las, anunciando discutíveis contrapartidas obtidas pela graça (falta-me palavra alternativa) do seu talento negocial. Com efeito, o impacto sobre a economia seria demolidor, o que já o fez recuar nas tarifas adicionais sobre peças automóveis e produtos tecnológicos como telemóveis, chips e computadores, incluindo os 125% à China. Isto mesmo lhe foi dito por alguns grandes empresários americanos; a Amazon terá pretendido publicar junto ao preço o custo da tarifa, e foi quase acusada de traição.

Portanto, estamos à espera, o pesadelo não terminou, só ficou adiado até à próxima ideia de Trump. É o que acontece quando se funciona ao contrário do espelho, que reflete, mas não fala.