Em janeiro, foi lançada com alguma pompa a estratégia do Governo para a Indústria 4.0 – um conjunto de 60 medidas de iniciativa pública e privada que deverão ter impacto sobre mais de 50.000 fábricas e empresas fornecedoras da Indústria em Portugal.

É muito importante o Governo português assumir uma estratégia para este sector, porque as transformações já estão a acontecer e as consequências são evidentes – e podem ser muito, mesmo muito fraturantes, como já o são pelo mundo fora.

No site do candidato presidencial francês Benoit Hamon, está proposta uma medida para taxar robôs que produzam rendimento aos seus proprietários. O mesmo foi proposto por Bill Gates, focando-se especificamente nos robôs que assumem empregos já existentes. É muito fácil entender como os robôs podem alterar a vida das fábricas. Mas considerem os robôs que nos podem conduzir os automóveis. Quem diz (ou escreve) automóveis, diz camiões. Os robôs que nos cozinham as refeições.  Os robôs que nos garantem a segurança dos edifícios. Que nos entregam as pizzas ao domicílio. Que escrevem os artigos desta revista.

A robotização da sociedade é uma das faces mais visíveis da Indústria 4.0 e, porque não dizê-lo, do impacto atual da tecnologia na nossa sociedade. Todos os dias mais empregos são robotizados pela maior eficiência, fiabilidade, resiliência e resultados que as máquinas emprestam a processos de fabrico e não só. Isso provoca uma série de questões – como pode a nossa sociedade, baseada em valores como a dignificação do trabalho, a liberdade ou a igualdade de oportunidades, interpretar esta perda massiva de empregos? De que forma se podem sustentar os sistemas de proteção social europeus, sobretudo numa pirâmide etária muito envelhecida?

A solução passa por ter medo? Não, isso seria negação.

Legislar contra? Podemos, mas cedo aparecerá uma offshore de robôs onde tudo será permitido e volvidos dez anos teríamos passado ao lado desta imensa revolução.

Regresso ao século XX? Não acredito, as vantagens económicas são esmagadoras e a Economia de Mercado é isto.

Então, de que forma pode um trabalhador humano concorrer diretamente com robôs? Bom, sem prejuízo de haver outras respostas, a minha é relativamente direta – concorre diretamente com robôs utilizando… robôs.

Tecnologias como a Realidade Aumentada são um exemplo disso, pois permitem aceder, em diversos contextos de trabalho, a dados que aceleram e qualificam os processos de trabalho. Óculos como os Microsoft Hololens ou os Epson Moverio disponibilizam mais informação e experiências que aceleram os processos produtivos com a ajuda de modelos 3D, vídeos, animações, acessos a bases de dados remotas – tudo isto associado a objetos físicos.

Desta forma, cada trabalhador pode trabalhar mais rápido e, inclusive, prestar suporte a unidades robotizadas mais eficazmente, de novo em diversos contextos profissionais como aviação, logística, indústria pesada, indústria automóvel, etc.

A Realidade Aumentada vai salvar os sistemas de proteção social da civilização ocidental? Não. É quase enternecedora a possibilidade, de tão ridícula. Não vai. Mas é uma pista para o tipo de recursos e, sobretudo, de atitude que o trabalhador do século XXI deve ter em relação à tecnologia – não a enquadrando como um meio meramente hostil, mas como um meio de crescimento de competências e de autovalorização.

Temas como a Inteligência Artificial, biogenética, Internet of Things, automação ou machine learning são outros temas que poderão servir para aumentar o potencial de trabalho em cada um de nós.

A verdade é que tudo isto é criado por pessoas para pessoas – o resto é meio, e é disso que não nos podemos esquecer. 🙂