Tipicamente, a direita tem tendência a preocupar-se mais com o tamanho do bolo da economia e a esquerda com a distribuição do bolo. O ideal é ter uma visão integrada, tendo em atenção que certas políticas de redistribuição podem mesmo diminuir o total da economia.

Desde 2015, a esquerda tem-se focado no aumento do salário mínimo, ignorando os outros salários, que pouco têm crescido, principalmente porque o desempenho da economia tem sido fraco e (quase) nada tem sido feito para o melhorar. Assim, a diferença entre o salário mínimo e o salário médio tem vindo a ser esmagada, reduzindo as perspectivas de melhoria de carreira de muitos.

Uma das razões principais para a sangria de emigração, que se iniciou com a crise de 2008, é exactamente a falta de perspectivas de muitos empregados. Uma coisa é começar com um salário baixo, outra é imaginar que daqui a vinte anos não poderá almejar a muito melhor.

O verdadeiro problema é não aumentarem os outros salários, porque as bases em que se fundamentam as remunerações não melhoram. Uma das questões mais ignoradas é o nível de capital por trabalhador, simplificadamente, a quantidade (e qualidade) de máquinas por trabalhador.

A falta de investimento tem conduzido a uma anormal redução do capital de trabalhador, uma queda aparatosa de 10% de 2015 a 2022, quando se deveria ter assistido a um aumento.

O investimento público tem-se portado excepcional mal, está abaixo do nível durante a “troika”. Só este défice acumulado de investimento corresponde a cerca de metade do PRR original. Discutem-se agora dois gigantescos investimentos públicos, o TGV entre Lisboa e Porto e o novo aeroporto de Lisboa, e tudo indica que vão ser dois futuros casos de estudo de tudo o que não se deve fazer. Uma coisa parece garantida, o dinheiro que vai ser torrado nestas obras não vai ajudar em nada a fazer subir os salários em Portugal.

É a pior combinação possível: temos falta de capital e falta de investimento público e preparamo-nos para espatifar o dinheiro que não temos em obras ou de duvidosa utilidade (o TGV) ou sem a preocupação de minimizar custos (o novo aeroporto).

Mas aumentar o salário mínimo é muito fácil de fazer, é só assinar um papel, e dá receitas ao Estado pelas contribuições da segurança social. O difícil é fazer o resto: atrair investimento estrangeiro, reduzir custos de contexto, aumentar a produtividade e mais um longo etc..

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.