Depois de uma campanha que, como decorre da regra, não respeitou os prazos, o ato eleitoral de 1 de outubro dividiu as atenções com o referendo na Catalunha e o futebol. Nada que impedisse a ida às urnas e uma descida de 2,37% na taxa de abstenção.

Contados os votos, constata-se que os eleitores pintaram o país de cor-de-rosa. A vitória em toda a linha do PS – número de votos, presidências de câmara e mandatos nos vários órgãos – permitiria a António Costa, agora sim, dizer que as vitórias de Seguro foram “por poucochinho”. Um triunfo tão grande – não se diz esmagador, pois os vencedores de hoje poderão ser os derrotados de amanhã – que até deu para esquecer a perda da maioria absoluta de Medina e a maioria absoluta de Rui Moreira.

Por falar em Rui Moreira, diga-se que entre os vencedores terão de ser incluídos os grupos de cidadãos eleitores. Os independentes como gostam de ser designados, mesmo que tal não corresponda à realidade, e que só desde 2001 podem concorrer aos três órgãos do Poder Local. A sua implantação junto dos eleitores tem sido ascendente, sobretudo no que concerne às freguesias, a circunscrição a que podem apresentar listas desde 1976 e onde obtiveram mais de meio milhão de votos.

Uma afirmação que subiu para o patamar seguinte e, por isso, em relação a 2013, mantiveram 11 das 13 câmaras – seriam 12 se o movimento Juntos Pelo Povo não tivesse passado a partido – e conquistaram mais como: Vila do Conde, Águeda, Vizela, S. João da Pesqueira e Peniche, uma das dez câmaras perdidas pela CDU.

Peniche que está inscrita a letras de ouro na história do PCP devido à fuga de militantes, entre os quais Álvaro Cunhal, da prisão do forte da vila piscatória. Ontem, forte foi a queda da CDU. Bastiões como Almada, Barreiro ou Beja foram perdidos para o partido que conduz a geringonça. Um pesadelo duplo para muitos comunistas. Desta vez nem deu para celebrar a derrota da direita, apesar do terramoto sem precedentes que se abateu sobre o PSD.

Se os resultados de 2013 já tinham sido modestos, Passos Coelho viu o partido – e não apenas os sôfregos barões – virar-lhe as costas. A perda de câmaras e as derrotas humilhantes de Teresa Leal Coelho em Lisboa e de Álvaro Almeida no Porto representaram uma hecatombe com reflexos a nível nacional. Um desastre a que nenhuma reflexão resiste. O ciclo passista está esgotado.

Para piorar as coisas, o seu anterior aliado continuou a tendência de implantação a nível autárquico. Uma afirmação ténue no conjunto do país – manteve as cinco câmaras e conquistou mais uma – mas vigorosa em Lisboa, onde a líder fez jus ao nome tal a dimensão da assunção.

Quanto ao Bloco de Esquerda, pouco conta para este jogo. Mais vozes do que nozes. Daí o alvoroço à volta da eleição de um vereador em Lisboa.

No discurso de vitória, Costa não viu derrotados na esquerda. A pressão colocada no volante poderia alterar a noção de lateralidade. As 143 maiorias absolutas poderiam toldar a visão. Não é o caso.

Plagiando Pessoa: o político é um fingidor…