Os actuais líderes políticos em Portugal não são autênticos, e sem autenticidade criam uma desconexão emocional com o eleitorado, sobretudo aquele eleitorado que se rege por princípios, não necessariamente partidários ou doutrinários, mas princípios éticos universais. Quando um indivíduo é inautêntico, nota-se. Cria desde logo um distanciamento em quem ouve, uma desconfiança, uma sensação de que algo “não bate certo”.

Os líderes políticos em Portugal são, muitas vezes, situacionistas, os princípios dobram-se, esticam-se e encolhem-se de acordo com o que for mais popular e útil no momento. Isto não é a natureza da política, como haverá quem defenda. A natureza da liderança política, pelo contrário, inspira e defende princípios comuns, galvaniza diferentes agentes para uma versão de bem comum, mas sem abdicar de princípios.

Estes dias, Keir Starmer, líder do Labour Party em Inglaterra, discursou na Chatham House sobre a sua posição acerca do triste conflito Israel-Palestina. Ouvi com atenção. Sem embargo de estar mais ou menos de acordo, o ponto é que o discurso se revelou bem estruturado, bem arguido, apelando a princípios comuns mas articulando uma visão própria, de forma corajosa, mesmo contra vozes dissonantes no próprio partido. E num assunto tão complexo e fracturante, foi autêntico.

Consegui conectar-me emocionalmente e, pelo menos, compreender os argumentos apresentados e os difíceis equilíbrios. Depois pensei: há quanto tempo não ouço um discurso assim, coerente, corajoso e autêntico por parte de políticos portugueses? Não me lembro.

Contudo, lembro-me de ouvir recentemente Ricardo Araújo Pereira a salientar como o primeiro-ministro, António Costa, mentiu sobre a obrigatoriedade imposta pela Comissão Europeia de privatização da TAP. Ou como Luís Montenegro critica as “contas certas à custa do sofrimento dos Portugueses”, quando defendeu o seu contrário anos antes com a mesma veemência.

A baixíssima autenticidade dos líderes políticos em Portugal ganha forma em discursos de lógica circular e ruminante, regurgitados a custo, mas sem pudor. Tantas vezes contraditórios e hipócritas. Muitas vezes mentirosos. Desalinhados consigo próprios seguem regateando a espuma dos dias.

Líderes inautênticos são influenciáveis e permeáveis a interesses, e dão sinais péssimos às equipas que comandam.

Ao escrever este artigo, recebo a notícia de que António Costa se demitiu e que mais pessoas da sua equipa foram detidas e constituídas arguidos, algumas das quais foram mantidas a custo na equipa governativa. Pois…