Boa parte do tempo em que as taxas de juro estiveram extraordinariamente baixas foi perdido em temas colaterais de agenda política, em vez de colocar-se o foco no crescimento económico. Esta espécie de dança é perigosa, porque é feita sobre riscos estruturais.
A fragilidade europeia vai além da dependência energética da Rússia. Está sobretudo associada à estratégia económica dos países europeus, muito assente em exportações e, como tal, funciona mal num sistema de sanções prolongadas.
A resposta de curto prazo deveria ter passado de imediato pela descida dos impostos variáveis (IVA) nestas componentes. O Governo português tomou agora essa decisão, mas perdeu muito tempo a fazer isso.
Quanto mais tempo durar a campanha militar de Putin, maior será o ímpeto federalista europeu na frente de defesa e segurança, criando uma nova espécie de “cortina de ferro” que poderá colocar o mundo numa clivagem perigosa e geradora de grandes desigualdades.
Os custos económicos e societários associados a uma desigualdade estrutural e divergente na saída desta crise serão elevados e poderão condicionar, a médio prazo, os próprios países mais desenvolvidos.
O fortíssimo resultado eleitoral socialista expressa, em meu entender, o receio que existe atualmente entre os portugueses de promover mudanças na sociedade, preferindo uma agenda que advoga o deixar tudo como está.