A indústria aeronáutica está a aderir rapidamente ao modo elétrico, confirmando que funciona em diversas aeronaves com características muito diferentes, desde os aparelhos de pequenas dimensões como o Embraer Ipanema, divulgado no 50º aniversário da brasileira Embraer, em agosto de 2019, ao avião comercial de nove passageiros, da israelita Eviation Aircraft, que utiliza soluções tecnológicas simples, dotado de uma bateria com capacidade equivalente à de 10 automóveis Tesla e que recorre a um carregador de dimensões reduzidas. Omer Bar-Yohan, CEO da Eviation Aircraft, no primeiro dia da 7ª edição do evento “AED Days” – que reúne as principais empresas ligadas ao cluster português para as indústrias de aeronáutica, espaço e Defesa –, reconheceu que “as soluções tecnológicas resultam; agora só falta viabilizar economicamente este projeto industrial”.
“O avião existe e funciona, aqui e agora, e já faz algum tempo que passou a ser mais do que um projeto para o futuro, mas ainda é preciso fazer com que permita ganhar dinheiro, tornando-se, assim, interessante para as empresas, ao mesmo tempo que é um produto muito seguro, que todas as pessoas querem utilizar”, refere Omer Bar-Yohan.
“Esqueçam as emissões de carbono e esqueçam os aviões ruidosos”, observou o CEO da Eviation Aircraft, confirmando que é possível construir aviões mais leves, sem emissões poluentes, sem ruído e que utilizem energia proveniente de fontes renováveis”, refere.
“Gostei particularmente de ouvir as declarações dos especialistas que vieram aqui ao ‘AED Days’ defender a reciclagem de materiais e os projetos sustentáveis que podem contribuir para mudar o mundo, reduzindo a pegada de carbono e promovendo a sustentabilidade do próprio negócio aeronáutico, porque os produtos, os aviões, devem ser economicamente viáveis e devem permitir que as empresas que os utilizam criem valor e gerem dinheiro, porque senão ninguém os utiliza”, comenta Omer Bar-Yohan.
“O nosso avião começou a ser pensado em Tel Aviv, em 2015, tendo como objetivo construir um modelo com manutenção barata, que utiliza energia barata, sem poluir o ambiente, silencioso e que reúna todas as características que levem as pessoas a não quererem comprar outro avião, porque sabem que este é o melhor para o tipo de voos que faz”, adianta o CEO.
O mais importante é sabermos que este avião funciona bem
“A agilidade da indústria que concretiza este projeto permitirá igualmente que ele se torne economicamente viável”, refere o gestor, explicando que “o mais importante é sabermos que este avião funciona bem e que tem todas as condições para poder equipar empresas de transporte aéreo de passageiros, viabilizando igualmente os aeroportos citadinos que lutavam contra a poluição atmosférica e contra o ruído, porque este avião de passageiros permite valorizar esses aeroportos e as propriedades que os rodeiam, sabendo-se que não poluem nem são ruidosos”.
“A eletrificação na aviação já é possível hoje, respondendo à pergunta que se fazia há alguns anos sobre como é que deveriam ser os aviões do século XXI”, refere ainda Omer Bar-Yohan, considerando que o seu avião “é uma espécie de comboio elétrico de alta velocidade, mas sem carris”.
“Este avião permite descarbonizar o transporte regional, pode reduzir os custos operacionais das transportadoras entre 30% e 70%, permite assegurar operações com baixo nível de ruídos, recupera rotas regionais que já tinham sido encerradas e abre novas rotas ao transporte aéreo de passageiros”, acrescenta o gestor.
”A nossa visão altera a forma como as pessoas viajem regionalmente recorrendo a um novo tipo de aviação acessível ao bolso dos passageiros, em rotas aéreas sustentáveis”, por isso – defende –, “a nossa missão é construir aviões que criam novas oportunidades de mercado, desafiando as limitações do transporte aéreo em percursos e rotas escaláveis, sustentáveis e economicamente viáveis”.
A portuguesa Alma Design entre os parceiros do consórcio
Entre os parceiros que formam o consórcio que desenvolveu o modelo de avião elétrico da Eviation Aircraft figura a Rolls Royce, a Honeywell, a Magnix, a AVL, a Parker Lord, a portuguesa Alma Design, a Hartzell, a Curtiss-Wright, o grupo Carboman e a Potez.
Também a EmbraerX tem vindo a desenvolver as novas tecnologias aplicadas ao fabrico de aviões, designadamente, a propulsão híbrida elétrica (designada IMOTHEP), tendo agrupado 33 membros neste projeto, onde se incluem organizações governamentais, académicas e industriais de onze países.
O CEO da EmbraerX, Daniel Moczydlower, considera que os projetos em que o seu grupo tem investido, entre os quais o desenvolvimento tecnológico realizado nas fábricas portuguesas de Évora e na unidade da OGMA em Alverca, tem aumentado o compromisso do fabricante brasileiro em aviões cada vez mais sustentáveis, desde a utilização de materiais compósitos, à participação em clusters tecnológicos como o português, que permitem construir um futuro sustentável, valorizando a ética e a integridade laboral, ao mesmo tempo que procuram a redução do peso das aeronaves fabricadas, a contínua poupança de custos e a otimização do ciclo de vida dos produtos.
“Um dos exemplos é a família das aeronaves E-Jets E2, que posta claramente na sustentabilidade da produção, o desenvolvimento de fuel biojet – para os modelos E190 – que é produzido em Espanha, com óleo de camelina, é refinado na Finlândia, e já permitiu assegurar 80 voos entre Oslo e Amesterdão, nos quais transportou 8000 passageiros, ou, ainda, o desenvolvimento dos projetos de produção de hidrogénio utilizado nas pilhas de combustível (as designadas fuel cells)”, referiu o CEO da EmbraerX.
Esta marca do Grupo Embraer tem funcionado como um acelerador empresarial de projetos que testam e desenvolvem soluções de neutralidade de carbono, transformando desafios em oportunidades de negócio.
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