Este título é inspirado num texto do pensador e antropólogo angolano Ruy Duarte de Carvalho que esboçou um “olhar sucinto e preliminar sobre os pastores kuvale da província do Namibe com um relance sobre as outras sociedades agropastoris do sudoeste de Angola. Este meu olhar breve e curto visa analisar a forma como as elites angolanas exercem o seu poder dentro de um contexto político preciso e dentro de um quadro de falta de consenso quanto ao processo político-eleitoral.
Este ambiente político está a alimentar um discurso polarizado, forçando o distanciamento entre pessoas devido às questões de natureza política. Os actores políticos angolanos devem, assim, exercer a pedagogia na sua retórica política e no respectivo comportamento político, sobretudo as elites do MPLA e da UNITA que estão submetidos a um consenso, sem precisar de ser firmado.
Estas elites podem até acreditar que não estão obrigadas a um consenso político, mas, devem entender que este consenso resulta de um poder efectivo e simbólico, como explicaremos no presente texto. Ou seja, estão vinculadas à soberania e à respectiva comunidade imaginária de nome Angola.
As elites do MPLA e da UNITA, com origens ambundu ou ovimbundu, só podem exercer o poder no solo angolano. Porque estes dois grupos etnolinguísticos não têm extensão territorial fora da realidade angolana. Como acontece, por exemplo, com os povos pastorais do sudoeste de Angola cuja extensão do imaginário e do espaço não está confinado a Angola. Por isso, as elites do MPLA e da UNITA estão, deste modo, submetidos ao mesmo território de poder. Este aspecto não precisa de um consentimento das partes, porque é um facto.
O MPLA e a UNITA foram, ainda, responsáveis pelo aspecto histórico-legítimo do poder através do acto emancipatório dos angolanos. Possuindo, por isso, a marca de movimentos de libertação nacional que lutaram pelo fim do jugo colonial. Este aspecto de legitimação histórica condiciona, em si, à acção fora da realidade angolana.
Se os povos pastorais do Ruy Duarte de Carvalho podem fazer transumância e navegar em espaços fora da geografia angolana, sendo a sua essência natural de estar e de ser enquanto comunidade política. Por sua vez, as elites angolanas estão presas a um poder fundado por estas em Angola.
Portando, o debate político angolano promovido pelas elites em causa deve sempre atender o seu contexto histórico e político, visto que somos uma sociedade marcada pela violência antes e depois da independência. Por isso, qualquer decisão de fomentar o conflito só servirá para reforçar quem detém o monopólio da violência legítima ou ilegitimamente. O caminho do consenso faz-se no espírito que não temos outra terra.