Com as dificuldades que a TAP está a passar, com as negociações duras que têm ocorrido, vieram a público, algumas “zonas cinzentas” que não eram conhecidas dos portugueses.

Diria que, em face de qualquer litígio, na ânsia das partes ganharem alguma vantagem sobre a outra, se acabam por esgrimir argumentos que nos levam, muitas vezes, a tomar conhecimento do impensável.

Uma das situações que veio agora a público foi o célebre empréstimo feito pela empresa Azul (cujo acionista maioritário é o ex-acionista da TAP – David Neeleman) à TAP, no valor de 90 milhões de euros, no início de 2016, a uma taxa de juro de 7,5% com maturidade em 2026. Este empréstimo poderia, na maturidade, ser convertido em capital, isto é, era obrigacionista convertível em ações.

Recordo que com o processo de privatização da TAP, o consórcio Atlantic Gateway (David Neeleman e Humberto Pedrosa), possuía 61% do capital da TAP.

Mas, para contextualizar o enquadramento da taxa desse empréstimo obrigacionista, gostava de recordar algumas taxas de referência nesse mesmo ano de 2016: Euribor a 6 meses – (-0,0041%) – Euribor a 12meses – 0,058 % – Taxa de cedência de liquidez do BCE – 0,00% – Taxa Média dos financiamentos da banca portuguesa a grandes empresas (+ de 1 milhão de euros) – 2,69%.

Face a tudo o que anteriormente referenciei, não consigo entender como foi possível a TAP comprometer-se a pagar 7,5%?! O que estava a fazer a Comissão Executiva? Não viu a taxa do empréstimo? Pode dizer-se que era uma taxa perfeitamente agiota e absolutamente desenquadrada do mercado.

Seria o “rating” da TAP assim tão mau que não encontrou um banco (ou sindicato bancário) que estivesse disponível para fazer o mesmo financiamento a uma taxa de juro completamente distinta (por valores muito inferiores)?

A SIC emitiu um empréstimo obrigacionista em junho de 2019 com um prémio de 4,5%; em novembro de 2018, o Sporting emitiu um empréstimo obrigacionista com um prémio de 5,25% e o Benfica arrancou há dias com um outro empréstimo idêntico a quem vai pagar um prémio de 4,5%. Isto para dar apenas alguns exemplos.

Será o “rating” da TAP bastante inferior a estas três instituições? Ou houve incompetência grave da parte de quem teve o poder de decidir? São de facto muitas interrogações que vão ficar para sempre por esclarecer.

Mesmo não tendo a TAP (ao tempo) qualquer poder operacional e de decisão, não competia ao representante do Estado na TAP alertar o ministro que tutelava na altura a TAP para o desastre financeiro que compaginava e configurava a taxa agiota desse empréstimo?

Confesso que faço um enorme esforço para tentar compreender como foi possível um erro tão grosseiro de gestão, mas não consigo arranjar uma razão que não seja uma enorme incompetência.

O interesse do acionista Estado nunca esteve aqui defendido. Claro que os interesses do ex-acionista Neeleman estavam bem defendidos com uma taxa de 7,5%! Mas não haver ninguém que lançasse um alerta é mais difícil de entender.

Sempre se percebeu que o ex-acionista Neeleman estava ali para fazer negócio e para lucrar. O que era mau para o país nada lhe dizia, desde que fosse bom para ele. Felizmente chegou ao fim a sua permanência na TAP.

A TAP vai enfrentar o caminho das pedras, com custos indeterminados para os contribuintes, porém, com uma gestão de profissionais estrangeiros capazes, dentro de três ou quatro anos teremos uma empresa mais saudável e no caminho dos lucros. Assim se espera. Mas o referido empréstimo a 7,5% irá ficar para sempre “atravessado” na memória dos portugueses!