Em 2019, o voto nacional continuou embarcado na visão da estabilidade. Portugal tem horror à política e, acima disso, vive no pânico de perder o conforto do Estado, com a sua cintilante coleção de empregos. É essa realidade que parece recomendar o PS para mais quatro anos de exercício do Poder, mesmo sem maioria absoluta e com Mário Centeno a perder espaço, dividido entre os interesses da Europa e as necessidades de Portugal.

O resultado é tão bom que permite a António Costa comportar-se como primeiro-ministro sem explicações a dar e/ou apoios a obter.

Num outro formato de Democracia, os resultados teriam dado origem a uma coligação para a legislatura. Não seria complicado. Por aqui, ao contrário, esses resultados sustentam mesmo dispensar o incómodo da geringonça e do frágil equilíbrio da complicada negociação permanente.

Pelo que se vê, quem ficou com mais saudades dos últimos quatro anos foram BE e PCP.

Quase todos os dias, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e os seus séquitos clamam por medidas próprias no Orçamento do Estado que já não marginam e, no limite, até serão obrigados a viabilizar. Não deve ser fácil, para ambos, assistirem ao filme de António Costa como pseudo protagonista da requalificação do SNS.

O primeiro-ministro tem tudo a seu favor, até o apoio de um Presidente da República sem alternativa. Bem pode Marcelo Rebelo de Sousa apelar ao surgimento de um bloco de direita equivalente ao poder vigente à esquerda, pois isso não parece nada provável.

O CDS está em vias de extinção – está mesmo. Assunção Cristas deixa o partido em coma. Paulo Portas quer mais para si no longo prazo e já não tem espaço nem vontade para responder a nova emergência. Também entre os seus ‘boys’ disponíveis não se inclui nenhuma esperança de curto prazo.

O PSD tem, nas eleições internas, assunto bastante para os próximos meses.

A Iniciativa Liberal e o Chega começam agora a fazer o caminho para se tirar a limpo se serão apenas simétricos da tragédia do Livre ou poderão aspirar a algo mais. Se depender do comendador Ferro Rodrigues, pouco dado à astúcia parlamentar, parece que pelo menos André Ventura estará destinado a desempenhar na política nacional um papel de alguma relevância.

Mas o fundamental à direita é saber qual o caminho do PSD.

Visto de fora, o melhor para o partido seria escolher a sobriedade e as convicções de Rui Rio, tão teimoso quanto confiável. A longo prazo, os portugueses acabam sempre a premiar a coerência. Mas não se pode dar por certo que os militantes de quotas em dia não venham a ser sensíveis às lógicas do aparelho, ao descaro da ala autárquica, à irmandade do negócio, ou seja, a garantirem a António Costa, por via indirecta, uma esperança de vida política de fazer inveja a qualquer líder mexicano.

É uma pena que os partidos continuem fechados às respetivas seitas e não abram as eleições internas a quem nelas, de fora, gostasse de participar com o intuito de moldar soluções para o país. Estou em crer que isso seria tão ou mais interessante quanto mexer no sistema político, coisa que os partidos instalados dizem querer mas apenas para arranjarem assunto para as horas vagas, que sempre existem.