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Banca portuguesa ainda vai ter de registar mais imparidades, antecipa Fitch

A agência de notação financeira alerta que o ritmo acelerado de desalavancagem pós-crise está a abrandar e o volume de crédito malparado ainda é muito elevado, o que representa um problema não só para o setor da banca, mas também para o crescimento do país.
  • Reinhard Krause/Reuters
15 Outubro 2018, 18h13

O elevado endividamento público e privado mantém-se como o principal desafio de Portugal, numa altura de crescimento económico e consolidação das contas públicas, na visão das principais agências de rating. A Fitch alerta, esta segunda-feira, 15 de outubro, que o ritmo acelerado de desalavancagem pós-crise está a abrandar e o elevado volume de crédito malparado continua a representar um problema para o setor da banca e para o crescimento do país.

“O fluxo líquido de empréstimos às famílias tornou-se positivo em 2017, pela primeira vez desde 2011, impulsionado por empréstimos ao consumidor e hipotecas. O endividamento das famílias e das empresas (em relação ao PIB) permanece acima dos níveis médios da zona euro”, explicou a agência, numa análise sobre a evolução das dívidas soberanas das economias da Europa ocidental.

O rácio de crédito em incumprimento foi de 13% no primeiro trimestre de 2018, o que compara com 16,3% no período homólogo. O índice de cobertura aumentou para 52,2% de 45,3% no final de 2016.

“O apetite dos investidores por ativos problemáticos está a aumentar, mas a Fitch acredita que os bancos terão de reservar mais imparidades para ativos problemáticos, para aumentar os volumes”.

O impacto do malparado na desvalorização dos ativos dos bancos tem penalizado as rendibilidades. A Caixa Geral de Depósitos (CGD), por exemplo, registou imparidades de 408,263 milhões de euros nas contas do ano passado, devido à desvalorização das participações que tem em bancos no Brasil, em Espanha e na África do Sul, instituições financeiras que se encontram à venda.

O Novo Banco, que recebeu uma injeção de capital do Fundo de Resolução no início do ano devido às imparidades registadas no ano passado, deverá voltar a precisar de outra recapitalização em 2019.

“No primeiro semestre do ano, o rácio de crédito não produtivo melhorou para 28,7% (-3,4% que no período homólogo) provisionado em 63,0% (mais 11,8%). O rácio de NPL líquido de imparidades desceu de 15,7% em junho de 2017 para 10,6% neste semestre, uma redução de cerca de 33%”, lê-se no comunicado. Entre janeiro e junho, as imparidades ascenderam a 248,4 milhões, o que compara com 413,1 milhões no primeiro semestre de 2017.

“Elevado endividamento privado compromete potencial de crescimento”

A Fitch alerta, assim, para o impacto do elevado endividamento do setor privado para o país. A par desta questão, assinala que há riscos para a consolidação orçamental, apesar de a forte recuperação cíclica, as políticas orçamentais restritivas e o compromisso do Governo com uma gestão orçamental prudente terem conduzido a uma significativa melhoria da situação orçamental.

“O abrandamento do crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] e as pressões no investimento de capital poderão tornar a consolidação orçamental mais desafiante nos próximos anos”, refere a nota.

A agência de notação financeira confirmou, em junho, o rating de Portugal em ‘BBB’, dois níveis acima de lixo, com perspetiva ‘estável’. A par com a canadiana DBRS, a Fitch é a agência que atribui atualmente melhor notação à República. O relatório é conhecido apenas dias depois de a Moody’s – única das principais agências que mantinha a avaliação da dívida nacional em grau especulativo – ter tirado Portugal do ‘lixo’.

A análise incluiu ainda considerações sobre as economias italiana, espanhola, grega, cipriota, britânica, francesa, austríaca e finlandesa. A Fitch aponta como principais “riscos” para as economias europeias “a perspetiva de taxas de juro mais altas e de abrandamento económico, que colocarão desafios à dinâmica da dívida nas economias mais endividadas”.

A agência alerta ainda que “a composição do ajustamento fiscal poderá mudar, com os juros e gastos de capital a aumentarem”, e prevê que “a partir de 2018 esforços fiscais adicionais venham a ser necessários em países altamente endividados”. Finalmente, a Fitch nota que “a crescente incerteza política, face às eleições para o Parlamento Europeu, poderá comprometer a dinâmica de crescimento”.

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