Aberta a caixa de Pandora, o Novo Banco continua a brindar-nos com novos factos que, quase sempre, nos conseguem mostrar que as surpresas não têm limites num dos maiores golpes de colarinho branco que tanto tem custado ao bolso dos contribuintes.

Já depois do choque do país com a injeção de 850 milhões de euros no Novo Banco, soubemos que, apesar de anos de prejuízos, as remunerações dos membros  da sua comissão executiva aumentaram 75%. Soubemos ainda que, de acordo com uma avaliação de 2015, o banco estava preparado para ser vendido em condições de dar um lucro de 180 milhões de euros em 2019. Pelo contrário, o que se viu foi um prejuízo de 1.058 milhões de euros.

Apesar da promessa de Costa, o enredo em torno da Lone Star dificulta em muito qualquer tipo de devolução do dinheiro ou de responsabilização que o país queira fazer no futuro por má gestão do banco. Qual matrioska, a Lone Star comprou o Novo Banco por via da Nani Holdings, a qual era detida pela Lone Star Fund, sediada no Luxemburgo e que tem como maior acionista a Nani Superholding, com sede no paraíso fiscal das Bermudas, que por sua vez é detida por uma diversidade de fundos geridos pela Lone Star.

Esta semana Rui Rio pediu e António Costa lá exigiu à PGR que investigasse a venda pelo Novo Banco de um lote de imóveis, ocorrida no ano passado, com um desconto próximo de 70%, a entidades ligadas ao Cerberus, com ligações ao atual presidente do conselho geral de supervisão do Novo Banco. Esta operação eticamente reprovável trouxe uma perda superior a 328 milhões de euros.

O que espanta é que só agora se tenham dado conta da desastrosa gestão de carteiras de crédito malparado e de imobiliário pelo Novo Banco. Desde 2018, que, para além desta carteira, existiram outras quatro carteiras que foram vendidas pelo Novo Banco ao desbarato e que trouxeram uma perda total de 283 milhões de euros, sem uma crítica do PSD. Mas mais vale tarde que nunca!

Recentemente, o Conselho de Finanças Públicas afirmou que o Novo Banco poderá precisar de “fundos adicionais de montante desconhecido” e além do previsto no acordo de venda. Esta afirmação associada às declarações de António Ramalho evidenciam que é urgente que o país renegoceie o acordo de venda do Novo Banco de modo a clarificar os buracos atualmente existentes, a reduzir significativamente os encargos futuros para o erário público e a assegurar que durante a crise sanitária não serão injetadas mais nenhumas verbas no Novo Banco.

Este debate, com ou sem crise, terá de ser retomado no quadro do próximo Orçamento do Estado, a começar pela renegociação, que há muito se impõe, mas também por se deixar de “bancar” os desvarios da Banca e passar a priorizar o investimento em áreas tão essenciais ao país como a saúde, a educação, os transportes, o combate à crise climática e o combate à pobreza ou a proteção animal.

É que de decisões más em decisões péssimas, vamos bancando todo este desfalque sem fundo.