A solução de utilizar o Banco de Fomento para a oferta pública de seguros de crédito à exportação “parece ser uma boa ideia”, defende José Monteiro, diretor geral da Coface Portugal. Diz não fazer sentido o Estado manter uma atividade pública “com um operador detido exclusivamente por dois acionistas privados, permitindo que este operador ofereça ao mercado um produto, diferenciador dos seus concorrentes, cujo risco é assumido pelo Estado”.
Afirma que a operadora (COSEC) que iniciou a atividade como empresa totalmente controlada pelo Estado, enquanto ECA, “alterou-se completamente”. E adianta: “Por um lado, o seu capital deixou de ser detido pelo Estado e, por outro, na Europa ocorreu um movimento, não ocorrido ainda em Portugal, em que as garantias públicas foram transferidas para entidades privadas, que não seguradora de crédito, através de concurso público, ou mantidas em entidades detidas maioritariamente pelos Estados.
Esta situação de desigualdade é ainda agravada pelo facto de o operador em causa, sem qualquer intervenção ou clarificação por parte do Estado, informar consistentemente o mercado e oferecer, como suas, coberturas que são prestadas por este. Falamos, entre outras, das coberturas para países fora da OCDE, Angola e outros países de elevado risco político, com condições únicas, que, a serem atribuídas, conduzem muitas vezes os clientes a contratar simultaneamente a cobertura para toda a carteira de clientes, beneficiando, assim, este operador, uma vez que tem um portfólio de produtos que os outros operadores não podem oferecer”.
Como multinacional seguradora de crédito a operar a nível global com uma marca única, com as mesmas soluções e tecnologias, “com soluções especializadas para cada segmento de clientes, qualquer que seja o mercado em que opera ou para onde vende”, a Coface assume-se como diferente dos concorrentes. Refere a mesma fonte que a empresa “oferece coberturas sobre todos os riscos inerentes às transações comerciais, qualquer que seja a sua fase de execução e em mais de 200 países. Cobrimos o risco de pré-expedição, não limitado apenas ao sector industrial, mas extensível às atividades de prestação de serviços, de trading e ao sector da construção, o risco político e comercial, bem como a ocorrência de qualquer catástrofe natural que impossibilite o pagamento por parte do comprador, seja este público ou privado”.
Diz José Monteiro que o cliente pode “beneficiar da nossa cobertura de risco comercial quando a avaliação do risco-país da Coface não nos permite assumir o risco político sobre um determinado país. Contamos também com uma gama de coberturas específicas para as empresas importadoras, empresas com investimentos no estrangeiro ou exportadores que queiram cobrir vendas pontuais de bens de equipamento ou serviços de engenharia com prazos de pagamentos dilatados no tempo”.
Exportador aguerrido
“O exportador português é aguerrido e aventureiro quanto às geografias de destino e oportunidades de negócio, mas prudente no que respeita aos prazos e condições de pagamento. De facto, a crise sensibilizou o nosso tecido empresarial para o risco de incumprimento e a procura de seguros de crédito responde à necessidade do exportador de gerir os seus riscos, proteger os seus créditos e assegurar a sua liquidez, comenta o gestor.
Por outro lado a tendência para a descida dos prémios das seguradoras está relacionada com a “tendência decrescente verificada na evolução da sinistralidade leva a uma menor perceção de risco por parte do tecido empresarial e, consequentemente, a uma forte pressão nos preços praticados pelo nosso sector. Isto resulta numa redução da taxa dos prémios, por sua vez, compensada pelo aumento dos capitais seguráveis como consequência do crescimento sustentado do comércio mundial. No entanto, o despontar dos atrasos de pagamento em 2017 deveria marcar um ponto de viragem no mercado”. Sobre a solvência das seguradoras diz que este setor é regulado por um conjunto comum de regras, entre as quais a diretiva Solvência II com o objetivo de reforçar a proteção dos segurados. Frisa que “a Coface apresenta-se no mercado português como um parceiro sólido com rating AA- pela Fitch e A2 pela Moody’s com outlook positivo em ambos os casos”.
Novos serviços
Entretanto a companhia anunciou novos serviços. Afirma José Monteiro: “Vamos disponibilizar, durante o 1º semestre deste ano, um produto de opiniões de crédito e informações, quer incorporado na apólice de seguro de crédito, quer de utilização autónoma, disponibilizando, através da nossa plataforma online CofaNet, o acesso à nossa base de dados de 80 milhões de empresas, permitindo assim facilitar a prospeção comercial dos nossos clientes em condições muito interessantes, quer de preço, quer de cobertura de risco. Pensamos ainda lançar durante 2018 um produto específico para a cobertura do risco de crédito das PME, com o objetivo de alargar o acesso ao seguro de crédito a um universo maior de empresas”. Recusando revelar o nível de morosidade da operação em Portugal, frisou que a empresa está “confortável” quanto aos níveis de sinistralidade em Portugal e que o grupo Coface registou um rácio de sinistralidade de 51,4% em 2017, apresentando um rácio de solvência de 166%, garantido assim a sua solidez de capital.
Riscos persistentes no mundo
O ano 2017 trouxe algumas “agradáveis surpresas económicas”, apesar de ter começado com a ameaça do protecionismo e ter sido marcado por numerosas eleições e crises políticas, diz o gestor. O comércio mundial deu um grande salto em 2017, crescendo 4,4% face a 1,5% em 2016. Cresceu mais do que o expectável nos EUA, na Europa, assim como em vários países emergentes apoiado pelo aumento gradual do preço de algumas commodities. Em 2018 a Coface prevê um aumento do crescimento global, o qual poderá atingir um novo pico, mais 3,2%, sendo expectável que a recuperação seja mais forte nos países emergentes, enquanto as economias avançadas regressam aos seus níveis pré-crise, à exceção do Reino Unido onde se prevê um aumento das insolvências num contexto de incerteza política. Frisa: “Contudo, chamamos a atenção para o facto de que esta melhoria global não está livre de riscos”. Nesse sentido, a Coface alerta para o risco associado “ao sobreaquecimento da economia, nomeadamente as limitações da oferta nas economias avançadas com níveis baixos de desemprego, o risco bancário ainda presente na China, como consequência do endividamento elevado das empresas, e o ressurgimento do risco político que não pode tão-pouco ser excluído em 2018”.
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