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Banco de Fomento está a agilizar a sua abordagem ao mercado

Num painel que se dedicava à capacidade multiplicadora da economia, estiveram em foco as virtudes, mas também as dificuldades. As mudanças estão a caminho e essa parece ser a melhor notícia para as empresas.
4 Junho 2025, 17h32

A conferência anual da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), a decorrer no Porto e da qual o Jornal Económico é media partner, continuou com um painel sobre “como fazer os incentivos multiplicar a economia”. António Pedro Antunes, CFO da Metalogalva – empresa que chegou a exportar de forma significativa para os Estados Unidos – disse que as barreiras tarifárias têm sido uma guerra muito difícil de gerir. “A guerra das tarifas dos EUA é para a matéria-prima e para os produtos transformados”, o que faz com que “não saibamos como estamos” no quadro de um projeto federal que lhes foi atribuído (em consórcio). “É mais fácil produzir fora da Europa do que no interior da Europa.”

Alexandra Vilela, presidente do Compete 2030, afirmou que as dificuldades escondem sempre oportunidades. “É um momento de grandes oportunidades, sendo necessário percebermos o que vale a pena e o que não vale a pena.” E não se furtou a explicar o que falta fazer em algumas áreas. “A máquina pública tem muita dificuldade em avançar. Até hoje, Portugal não perdeu um euro de investimento comunitário. Mas, de facto, o tempo das empresas e o do lado público têm ritmos diferentes. A máquina pública dos incentivos está esgotada – à beira de um ataque de nervos. É uma questão de falta de recursos humanos, que está exaurida.”

Luísa Anacoreta, administradora executiva do Banco de Fomento e professora da Universidade Católica, afirmou, por seu turno, que “há um programa específico que, dentro de pouco tempo, estará disponível para empresas que exportavam para os Estados Unidos e que precisam de financiamento para redefinirem os seus mercados”. Sendo o Banco de Fomento supervisionado pelo Banco de Portugal, tem limitações que têm de ser dirimidas na sua gestão, mas não é por isso que os processos não são “muito mais rápidos”. São-no de facto, disse Luísa Anacoreta.

Recordando que o banco tem como grande função prestar uma garantia pública – através das sociedades de garantia mútua – a administradora disse que a instituição “tem uma atividade muito diversificada”, funcionando como uma espécie de ‘hub’ a partir do qual distribui recursos que chegam às empresas. “É preciso que o governo acredite no Banco de Fomento”, “que tem vindo a mostrar que é capaz de responder aos desafios da economia.”

Para Alexandra Vilela, “neste momento, o dinamismo do Banco é grande” – respondendo com eficácia à necessidade de ‘atirar’ liquidez para as empresas, “um esquema de adiantamentos garantidos que está a ser trabalhado desde março e que está pronto para ser assinado”. Até ao final do mês, vamos lançar um instrumento híbrido: empréstimo e subvenção, e nesta medida o Banco de Fomento tem sido ágil e eficaz – numa relação que todas as partes esperam que seja relevante.

António Pedro Antunes já esteve ‘por perto’ do Banco de Fomento, mas não tem um bom exemplo para contar. Admitindo que eram outros tempos, a burocracia subjacente ao relacionamento era de tal ordem que a empresa acabou por desistir. “O que é verdade”, recordou Alexandra Vieira, “são tempos que ficaram para trás.” De qualquer modo, “os mercados internacionais estão a fechar-se, com a exceção da União Europeia”, disse o CFO da Metalogalva. “O mercado dos EUA está a destruir valor: as empresas que vendem para lá não vão ter facilidade de substituir esse mercado.” Mas “a UE não pode deixar de proteger o seu mercado”, coisa que eventualmente não está a correr da melhor forma.

Mas há outro problema que é específico de Portugal: é que, para além da regulamentação europeia, disse Alexandra Vilela, surge sempre a ‘mania’ nacional de acrescentar legislação em cima de legislação. Entre outras razões, disse, porque “há uma desconfiança de base.” “É muito complicado ter uma abordagem flexível que, no fim do dia, esbarra nos auditores”, disse a presidente do Compete: “faço uma revolução todos os dias, mas não é fácil.”

“Constituímos um grupo de trabalho com as associações dos setores que mais exportam para simplificar a internacionalização. Tentámos trabalhar este modelo, mas não foi possível chegarmos a acordo. Os setores são muito heterogéneos e, portanto, é muito difícil também pelo facto de as empresas estarem disponíveis para esta homogeneização. Vamos voltar a negociar para o próximo quadro comunitário de apoio.”

Esta espécie de monstro da complicação é também um ‘medo’ que existe no Banco de Fomento, admitiu Luísa Anacoreta. “É um mundo muito grande de burocracia que se tenta simplificar. Estamos numa fase de muita aprendizagem”, referiu. “Estamos numa multiplicidade de iniciativas.”

Para António Pedro Antunes, as garantias do Fomento serão essenciais para reforçar ou tomar exportações para outros países, nomeadamente para países de risco, que as seguradoras não estão disponíveis para acompanhar (de todo ou em parte). Novidades nessa área estão previstas para breve – “mas o mais difícil é o timing: os avisos (janelas de investimento) deviam estar permanentemente abertos.”

“Temos que ter foco, temos que saber onde nos vamos especializar: que setores, que tecnologias – temos de ter a capacidade de identificar aquilo que nos faz crescer e, uma vez sabido, dar tudo a esses setores. Não quer dizer que só se apoie esses segmentos – é preciso uma intervenção nos setores dinâmicos, mas também na banda larga”, disse ainda Alexandra Vilela.

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