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BdP diz que para a estabilidade financeira “é fundamental manter a trajetória de redução do rácio da dívida pública”

“É fundamental para a estabilidade financeira manter a trajetória de redução do rácio de dívida pública portuguesa, respeitando critérios de sustentabilidade e as regras orçamentais da União Europeia”, disse Clara Raposo.
21 Maio 2025, 12h36

O Banco de Portugal procedeu à apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira de maio de 2025, com a participação do Governador Mário Centeno e da Vice-Governadora Clara Raposo.

O Governador alertou que “não se deve embandeirar em arco na estabilidade financeira”, mas a banca hoje apresenta bons “índices de resiliência”.

“Aquilo que vos posso dizer é que, neste momento, é difícil não utilizar a palavra incerteza, devido a politicas económicas que têm vindo a ser adotadas globalmente”, disse ainda Mário Centeno.

Depois coube a Clara Raposo a apresentação do relatório esta quarta-feira e disse que a incerteza e volatilidade a nível global, “devido à imprevisibilidade das políticas económicas dos Estados Unidos e das reação dos parceiros, juntamente com a elevada tensão geopolítica, e com a elevada volatilidade e probabilidade de correções abruptas nos mercados financeiros”, acentuaram os riscos para a Estabilidade Financeira.

“É fundamental para a estabilidade financeira manter a trajetória de redução do rácio de dívida pública portuguesa, respeitando critérios de sustentabilidade e as regras orçamentais da União Europeia, respeitando os critérios de sustentabilidade e as regras orçamentais da União Europeia (UE)”, disse Clara Raposo.

A médio prazo, os desafios orçamentais poderão ser ampliados pela estratégia europeia de aumento de despesa com defesa, devendo-se preservar margens contracíclicas para eventuais abrandamentos da atividade económica, realça o banco.

Os riscos para a estabilidade financeira acentuaram-se nos últimos meses, refletindo a imprevisibilidade das políticas económicas norte-americanas e das reações dos diferentes parceiros geopolíticos e comerciais. Pelos seus efeitos na confiança dos agentes económicos e nas condições de financiamento, podem ser gerados impactos negativos significativos sobre a atividade económica, a inflação e o preço dos ativos, diz o supervisor bancário.

Por outro lado, a volatilidade e a probabilidade de correções acentuadas nos mercados financeiros aumentaram. “Os emitentes portugueses beneficiam de uma melhor avaliação do risco soberano português, com impacto positivo nas condições de financiamento e no valor dos títulos de dívida pública nacional”, defende o banco central.

Os potenciais efeitos sobre o setor são também atenuados mitigados pela baixa exposição a instrumentos de capital, pela diversificação geográfica dos emitentes e pelo peso elevado da componente a custo amortizado na exposição a títulos de dívida, em particular de dívida pública, que assume materialidade nos ativos do setor.

Outra exposição relevante do setor bancário está associada ao mercado imobiliário português, em particular no segmento residencial.

O aumento do rendimento das famílias aumentou mais de 10% em termos nominais, e mais de 7% em termos reais, revelou a vice-governadora.

Sobre o setor imobiliário residencial o banco central salienta o aumento expressivo dos preços do imobiliário, devido ao aumento da procura em período de descida das taxas de juro, subida do rendimento disponível, aumento da procura por estrangeiros residentes e não residentes e a um ajustamento lento da lado da oferta.

O banco central admite que o agravamento das condições económicas poderá originar uma redução dos preços do imobiliário.

A concretização de um cenário económico e financeiro adverso afetará a despesa das famílias e das empresas, bem como a capacidade de serviço da dívida, especialmente dos agentes mais vulneráveis, refere o BdP.

Sobre o setor bancário, o banco central diz que no final de 2024, “o setor bancário apresentava elevadas rendibilidade, liquidez e capital, e boa qualidade creditícia dos ativos, tirando partido do ajustamento significativo dos últimos anos. Em termos prospetivos, a margem financeira será pressionada, com impacto nos resultados do setor, que deverão diminuir em relação aos registados nos dois últimos anos”.

“No atual quadro de incerteza, é fundamental que os bancos mantenham prudência na constituição de imparidades e na preservação do capital. As recentes medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco de Portugal, nomeadamente a implementação da reserva para risco sistémico setorial (sSyRB) e a aplicação da reserva contracíclica (CCyB) de 0,75%, a par da recomendação macroprudencial relativa aos novos créditos à habitação e ao consumo, reforçam a resiliência do setor”, refere.

“O contexto externo coloca novos desafios, económicos, financeiros e tecnológicos – nomeadamente, ciber‑riscos e riscos operacionais. Enquanto economia fortemente interligada com o exterior, Portugal deve incorporar estes fatores de risco na formulação das suas políticas e preparar-se para os enfrentar. O Banco de Portugal continuará a atuar na promoção da estabilidade do sistema financeiro”, acrescenta.

“Perante os enquadramentos mais certos devemos manter uma atuação cada vez mais previsível e não dar passos que criem mais incertezas”, defendeu o Governador que destaca que o facto de os Estados Unidos se  retirarem do espaço comercial europeu, traz desafios adicionais para as empresas europeias.

“As políticas económicas servem para estabilizar e não devem ser pró-ciclícas”, defendeu.

“Não podemos correr o risco de ter uma política monetária que coloque a taxa de inflação abaixo do objetivo”, alertou ainda Mário Centeno. A meta da inflação são os 2%.

“A taxa de juro para conseguir manter a inflação a 2% pode ter de vir abaixo daquilo que é considerado a taxa natural , que ninguém sabe bem qual é, mas é preciso garantir uma economia compatível com uma taxa de inflação a 2% e o crescimento da área do euro não tem sido compatível com essa taxa porque estamos numa posição ciclíca negativa, e a política monetária não pode esquecer que por detrás dos preços está a economia”, disse Centeno.

 

O sistema bancário e os riscos da estabilidade financeira

A concretização de uma conjuntura adversa deverá ter um impacto limitado no mercado imobiliário português, que representava 25% do ativo dos bancos. s. Perante o ajustamento lento da oferta, o aumento dos preços no segmento residencial tem sido sustentado pelo crescimento da população estrangeira residente, pelo aumento do rendimento disponível das famílias e pelo recente ciclo de descida das taxas de juro.

A exposição dos bancos, sob a forma de empréstimos à habitação, é mitigada pela baixa percentagem do valor do imóvel financiada pelo empréstimo e
pela contenção da taxa de esforço.

O BdP aborda as interligações tecnológicas no sistema financeiro português. A cibersegurança é crucial para a preservação da estabilidade financeira, tendo em conta
o aumento do número e da gravidade dos ciber-incidentes. “Neste contexto, torna-se essencial identificar e mitigar vulnerabilidades operacionais no sistema financeiro, incluindo as associadas com prestadores de serviços terceiros de tecnologias de informação e comunicação (doravante “fornecedores
tecnológicos”, defende o banco central.

O BdP destaca ainda o novo quadro metodológico de identificação e de determinação da reserva de O-SII. Recorde-se que no início de 2025, o Banco de Portugal reviu o enquadramento metodológico de identificação de O-SIIs. Esta revisão refletiu as alterações no enquadramento regulatório e os desenvolvimentos no sistema bancário português. A nova metodologia entrou em vigor em abril de 2025 e será aplicada no exercício a realizar no final deste ano.

No relatório é salientada boa evolução do risco de crédito e do pricing dos empréstimos a empresas. Num período de resiliência acrescida do sistema bancário português — refletida em indicadores robustos de liquidez, capital, qualidade dos ativos e rendibilidade — é essencial manter uma avaliação contínua do risco assumido pelos bancos.

O relatório analisa os empréstimos a empresas, que representavam 35% do total de empréstimos ao setor privado não financeiro no final de 2024, e o respetivo perfil de risco.

A proporção do stock de empréstimos a empresas de risco alto continuou a diminuir, de 28% no final de 2018 para 14% no final de 2024, impulsionada pela melhoria da situação financeira das empresas, refere o banco.

No entanto, acrescenta, aumentou a proporção de empresas de risco médio, sobretudo devido às transições de empresas anteriormente classificadas com risco baixo.

As empresas que transitaram para uma classe  de risco mais elevado apresentaram, em geral, uma situação financeira mais frágil, caracterizada por maior alavancagem, maiores custos de financiamento e menor liquidez e rendibilidade.

Em geral, os spreads dos novos empréstimos diminuíram, mas mantiveram-se diferenciados em função do perfil de risco. Em 2024, as empresas de risco alto pagaram, em média, mais 75 pb do que as de risco baixo.

Nos últimos seis anos, a qualidade do crédito às empresas melhorou no sistema bancário português. A proporção de empréstimos a empresas de risco alto, medido pela probabilidade de incumprimento (PD), desceu de 28% no final de 2018 para 14% no final de 2024. A redução do stock de empréstimos a empresas de risco alto tem sido impulsionada, sobretudo, pela melhoria da sua situação financeira.

Também em 2024, a percentagem de empréstimos classificados como de risco alto diminuiu, apesar dos custos de financiamento mais elevados. Ainda assim, aumentou a proporção do stock de empréstimos a empresas de risco médio, devido às transferências a partir das classes de risco baixo e alto (12% e 6,8% do stock, respetivamente).

O Banco de Portugal constata que em dezembro de 2024, 18,1% do stock de empréstimos transitou para uma classe de risco mais elevado, enquanto 13,7% passou para uma classe de risco mais baixo. Esta dinâmica refletiu alterações no custo de financiamento e na situação financeira das empresas.

O aumento da alavancagem e dos custos dos empréstimos bancários esteve associado a uma maior probabilidade de deterioração do risco, ao passo que maior liquidez e rendibilidade reduziram essa probabilidade. A deterioração do risco foi mais pronunciada nos setores da indústria, dos transportes e armazenagem e do comércio.

Em 2024, a proporção de NPL no total da carteira voltou a diminuir. No final do ano, o rácio de NPL bruto situava-se em 2,4%, abaixo de 2023. O rácio de NPL bruto das empresas caiu 0,8 pp, para 4,3%, refletindo abatimentos ao ativo e vendas de NPL.

O enquadramento macroeconómico favorável e a descida das taxas de juro contribuíram para uma redução generalizada do risco de crédito em 2024.

Por fim, o BdP aponta que o reforço das carteiras de títulos de dívida implica, contudo, um aumento da exposição ao risco de mercado, nomeadamente a eventuais perdas associadas a comportamentos de aversão ao risco por parte dos investidores.

Esse risco é mitigado pela preponderância de instrumentos de dívida pública nas carteiras de investimento, três quartos dos quais registados a custo amortizado,
e por fatores como a diversificação geográfica, a gestão das maturidades e a contratação de instrumentos de cobertura.

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