Faz parte do ciclo da história o surgimento de várias indústrias, o seu crescimento, maturidade e declínio. Contudo, ao longo de todos estes anos de seleção natural económica houve sempre uma peça no puzzle que aparenta jogar xadrez enquanto os outros se preocupavam em jogar damas, garantindo a sua constante importância e influência: as instituições financeiras.

O sistema financeiro funciona à base da confiança que lhe é atribuída por nós todos. Confiança essa em garantir que o valor nominal é o real. Quando essa frágil relação de confiança é quebrada ocorrem bank runs,  cuja solução foi a criação de bancos centrais, uma das mais influentes ainda hoje. Estas instituições serviriam como uma linha de apoio aos bancos membros quando estes estivessem a atravessar crises de liquidez, ou seja, seriam o ‘banco dos bancos’. O maior perigo deste sistema será o facto de o controlo monetário ter sido dado única e exclusivamente a instituições não governamentais.

Contudo, desde 1971 que as garantias que serviam de pilares dessa confiança acabaram quando o gold standard foi abandonado tornando qualquer moeda sem valor real colateral definido, abrindo asas ao maior mercado financeiro da atualidade, as trocas cambiais.

Os bancos centrais têm como objetivo fundamental a manutenção de um nível de inflação anual próximo dos 2%. Isto tem como consequência a subsistência de uma economia estável e saudável. Mas será algo que deve ser temido? A resposta é sim, caso esta alcance um nível de descontrolo tal que leve à desvalorização de qualquer moeda. Historicamente, tal apenas aconteceu em tentativas desesperadas de recuperação económica a partir de estímulos fiscais sem precedentes por parte dos governos, em períodos de instabilidade prolongada. Soa familiar?

Cerca de 25% de toda a circulação monetária em dólares foi criada em 2020. Todos estes esforços para rapidamente recuperar os níveis gerais de preço (CPI index) e os níveis de consumo pré-pandemia, caso contrário muitas empresas, maioritariamente pequenas e médias, iriam abrir insolvência causando um feedback loop económico recessivo.

A rapidez com que o dinheiro é transacionado está a diminuir mesmo com as medidas tomadas, sugerindo que estas tenham sido pouco ou nada eficazes. Por conseguinte, é expectável observar alguns efeitos adversos como inflação por via dos custos, cujo controlo é crucial para uma recuperação económica saudável e para o bom funcionamento dos mercados.

Isto leva a questionar a eficácia das medidas e instrumentos financeiros impostos pelos bancos centrais, numa tentativa de impulsionar a economia e perseguir uma utopia (obter e manter 2% de inflação anual numa dada economia), veja-se o caso do Japão. Cada vez é mais claro que a Reserva Federal dos EUA e qualquer outro banco central representam um perigo para a estabilidade financeira futura, com as suas políticas cada vez mais ligadas aos mercados e não à verdadeira economia. Uma bolha de ativos está a ser alimentada e a realidade económica distorcida.

Um único evento desfavorável mostrou do que esta bolha realmente é feita: pessoas individuais a viver acima dos seus meios sem poupanças ou plano B. Principalmente, empresas demasiado endividadas e economias alavancadas. Será que demos xeque-mate ao nosso futuro?