O superavit de mais de três mil milhões de euros deixado por Fernando Medina significa que o Governo PS foi prudente na gestão das contas públicas.

Pode ser criticado por ter desinvestido em algumas funções básicas dos serviços sociais – não é segredo para ninguém que saúde e educação não funcionam na plenitude e deixam muito a desejar –, mas os cofres não estão na penúria.

Logo, não pode agora o novo primeiro-ministro anunciar que estamos de tanga (como fez Durão Barroso), ou que vivemos à beira de uma bancarrota (como Pedro Passos Coelho teve de combater para a evitar). Luís Montenegro pode, contudo, e preventivamente, gerir as expectativas sobre os ditos cofres cheios, preparando os portugueses para o facto de o dinheiro não chegar para tudo, não é elástico.

É um dos requisitos fundamentais da liderança (qualquer que ela seja e em diferentes áreas) saber gerir as expectativas, e o novo primeiro-ministro até já sabe como lidar com elas, pois, sobre ele, nesta caminhada até São Bento, as expectativas eram baixas, sabendo a cada momento ultrapassar dúvidas e resistências.

Agora vem o teste-mor e foi importante no seu pontapé-de-saída na Ajuda dar este banho de realidade.

Irá contar com o apoio de Belém (tal como António Costa contou, sobretudo na ‘fase-geringonça’). Aliás, no magnífico discurso do Presidente da República, este chamou a atenção para o facto de a legislatura, teoricamente, ser de quatro anos e meio, mas o tempo ser curto para executar todas as promessas de campanha – sem esquecer o PRR.

Ou seja, Marcelo Rebelo de Sousa falou do diálogo, uma palavra-chave que fez andar o governo de maioria relativa de António Guterres em 1995, com a colaboração total do líder da oposição na altura, Marcelo Rebelo de Sousa. Tal como agora o diálogo é uma formulação indispensável para que o Governo possa executar o que pretende fazer.

Só que o PS já se afirmou como líder da oposição – não de bloqueio – e o Chega bate o pé com o “não é não” a Montenegro, depois deste ter optado por namorar com a esquerda para a escolha do presidente da Assembleia da República.

São tempos difíceis e instáveis, e todos os protagonistas políticos terão de ter a arte dos faquires e caminhar sobre lâminas afiadas. Nem todos conseguirão superar este desafio, pelo que veremos quem lhe vai sobreviver.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.