A construção de barragens para regularizar o curso dos rios e evitar cheias, como a que sucedeu na semana passada no Baixo Mondego, está a gerar uma discórdia entre os responsáveis da Ordem dos Engenheiros (OE) e o Governo, na pessoa do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes.
Já depois de na passada segunda-feira, a OE ter emitido um comunicado a defender a construção de barragens para regularizar o curso do Baixo Mondego, ontem, dia 26 de dezembro, foi a vez o presidente da secção regional do Centro da OE, Armando Afonso, ter defendido, em conferência de imprensa, a retoma da construção de Girabolhos, no concelho de Seia, suspensa em 2016 pelo primeiro Governo de António Costa, já depois de a concessionária Endesa ter investido no projeto cerca de 60 milhões de euros.
“Não acredito que se consiga fazer isto (regularização do rio Mondego) sem mais barragens. Sem a barragem de Girabolhos, será muito difícil travar a repetição destes fenómenos, como agora”, ou seja, as cheias da última semana, defendeu Armando Afonso.
Essa possibilidade foi já hoje, dia 27 de dezembro, afastada liminarmente por João Pedro Matos Fernandes.
Em declarações aos jornalistas, o ministro do Ambiente rejeitou a possibilidade de construir novas barragens no Mondego, assumindo uma divergência frontal entre posição do governo e a a Ordem dos Engenheiros sobre esta matéria.
“Aquilo que nós temos neste momento em curso de uma forma completamente diferente daquela que é advogada, de facto, pela Ordem dos Engenheiros da Região Centro, é a regularização do rio Ceira. O rio Ceira, que é um afluente da margem esquerda do Mondego, cuja foz é quase em Coimbra, é um rio que hoje corre livremente e que, com o apoio de fundos europeus, nós estamos neste momento a começar a regularizar, utilizando apenas métodos de engenharia natural, se quiser, fazendo exatamente o oposto do que é fazer uma barragem, mas com isso, e apenas com métodos de engenharia natural, conseguimos ter um rio mais regularizado e com uma maior capacidade de diminuir a afluência de caudais depois ao próprio rio Mondego, em Coimbra. É essa a nossa aposta”, defendeu de forma taxativa João Pedro Matos Fernandes.
Recorde-se que o Ministério do Ambiente assinou, no passado dia 18 de dezembro, o contrato do projeto ‘Gestão da Bacia Hidrográfica do Rio Ceira face às Alterações Climáticas’, um projeto de investimento avaliado em cerca de 2,6 milhões de euros e apoiado pelo EEA Grants 2014-2021, mecanismo financeiro do Espaço Económico Europeu.
De acordo com uma nota do Ministério do Ambiente, este projeto “é baseado numa abordagem ambiental, visa consciencializar as populações locais para a mitigação e adaptação das suas atividades às alterações climáticas neste território”.
O projeto deverá demorar 36 meses a concretizar e será coordenado pela Região Hidrográfica do Centro da Agência Portuguesa do ambiente (APA), tendo como parceiros a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, os municípios de Arganil, Góis, Lousã e Pampilhosa da Serra e a Direção Norueguesa para a Proteção Civil.
“Com incidência nas componentes hidrológica, cultural e nos ecossistemas, o projeto pretende melhorar a resiliência e a capacidade de resposta às alterações climáticas”, explica a referida nota informativa do Ministério do Ambiente.
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