O Senado norte-americano, muito por força da intervenção de um senador de origem açoriana, Devin Nunes, resolveu desencadear uma investigação por suspeitar que o Departamento da Defesa lhe tinha feito chegar informações falsas no processo relativo à localização do Centro de Informações em Croughton, em Inglaterra. Devin Nunes e os seus pares queriam saber a razão da opção pela base inglesa em detrimento da Base das Lajes. Um processo ainda a decorrer, pois, devido às suspeitas, o orçamento da Defesa para 2018 congelou as verbas destinadas às obras na base escolhida.
Entretanto, em 30 de outubro do corrente ano, ficou concluído o relatório do organismo inspetivo do Departamento da Defesa dos EUA sobre este assunto. Um documento com 151 páginas e que foi elaborado na sequência de uma intensa atividade. De facto, os inspetores conduziram 170 entrevistas a 110 testemunhas e leram mais de 4300 emails e 2400 megabites de dados e documentos, alguns deles secretos ou muito secretos.
Depois de tão árdua tarefa as conclusões deixaram claro que a opção por Croughton tinha sido a mais correta, apesar de o relatório reconhecer a existência de erros na informação inicial. Erros que não eram simples questão de pormenor e que enviesavam os cálculos. Como, por exemplo, o facto de as Lajes serem servidas por dois cabos transoceânicos e não apenas por um. Ou que o estudo sobre o alojamento destinado a acolher os norte-americanos e respetivas famílias tivesse recorrido a dados desatualizados, uma vez que tinham sido recolhidos há oito anos.
Na realidade, o relatório até não deveria falar em erros, mas em lapsos porque se recusa a admitir a possibilidade de ter havido má-fé na transmissão da informação. Tudo não tinha passado de desleixo e de algumas práticas desajustadas. A questão deveria terminar aqui, embora pareça questionável tanto desmazelo e incúria por parte de funcionários de um setor tão sensível como é a defesa. Porém, uma leitura dos cálculos feitos pelos investigadores mostra que também eles talvez não tenham efetuado bem o seu trabalho.
De facto, os inspetores consideraram que cerca de 264 funcionários teriam de ficar fora das instalações da base e calcularam o preço dessa despesa. O problema é que não tiveram na devida conta os valores de arrendamento praticados na Praia da Vitória ou nas Lajes.
A menos que o relatório da inspeção tenha uma dimensão prospetiva e consiga quantificar a escalada de preços de arrendamento na eventualidade da chegada de um forte contingente de funcionários altamente remunerados. Que os inspetores não foram somíticos não restam dúvidas. Calcularam o subsídio ao alojamento, baseado no custo médio do aluguer de casas, em 1540 dólares mensais quando na região o preço mais elevado de arrendamento ronda os 600 euros.
Não teria sido mais fácil dizer que preferem o cosmopolitismo proporcionado por Croughton à pacatez isolada de um pedregulho perdido no meio do Atlântico? Nas Lajes, o Centro de Informações evaporou-se. Ao contrário das facilidades concedidas aos Estados Unidos na utilização da base. Essas estão de pedra e cal. E, diplomaticamente, a preço de saldo.