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BCE demarca-se do banco central suíço na hierarquia de perdas. “Acionistas antes de obrigacionistas”

“O quadro de resolução implementando na União Europeia e as reformas recomendadas pelo Conselho de Estabilidade Financeira (após a Grande Crise Financeira), vieram estabelecer, entre outras coisas, a ordem segundo a qual os acionistas e credores de um banco em dificuldades devem suportar perdas”, realçam o BCE, o SRB e a EBA em comunicado. No Credit Suisse os detentores de obrigações AT1 perdem tudo. Os acionistas não.
20 Março 2023, 14h59

É a medida mais polémica do acordo histórico entre as autoridades suíças, o UBS e o Credit Suisse. O acordo desencadeará uma “redução completa” dos títulos Additional Tier 1 do banco, a fim de recapitalizar o Credit Suisse, disse o regulador financeiro suíço FINMA num comunicado no seu site. Estão em causa os 16 mil milhões de francos suíços em obrigações Additional Tier 1 que têm incorporado elevado risco e que com este acordo são reduzidos a pó. Enquanto isso, os acionistas do banco devem receber o equivalente a três mil milhões de francos suíços, o que tem deixado indignados os fundos institucionais, mas também os bancos centrais europeus.

“Cancelar dívida subordinada mas reduzir apenas parcialmente os acionistas é um caminho muito mau”, disse ao Jornal Económico fonte do mercado.

A declaração oficial do Single Resolution Board, da Autoridade Bancária Europeia e da Supervisão Bancária do BCE emitida esta segunda-feira sobre o anúncio de ontem na Suíça, é claro sobre isso.

As autoridades europeias apressaram-se a dizer que, ao contrário do que acontece na Suíça, “o quadro de resolução implementando na União Europeia e as reformas recomendadas pelo Conselho de Estabilidade Financeira (após a Grande Crise Financeira), vieram estabelecer, entre outras coisas, a ordem segundo a qual os acionistas e credores de um banco em dificuldades devem suportar perdas”.

“Em particular, os instrumentos de capital comum são os primeiros a absorver perdas, e só depois da sua plena utilização se exigiria que os instrumentos adicionais de nível 1 fossem anotados. Esta abordagem tem sido aplicada de forma consistente em casos passados e continuará a orientar as ações do Conselho Único de Resolução (SRB) e da supervisão bancária do BCE em intervenções de crise”, diz o BCE, o SRB e a EBA numa clara crítica ao facto de as autoridades suíças terem decretado a “redução completa” dos títulos Additional Tier 1 ou AT1 do Credit Suisse, a fim de aumentar o capital principal do banco. Enquanto isso, os acionistas do banco devem receber o equivalente a três mil milhões de francos suíços.

O Banco Central Europeu e as outras duas autoridades bancárias europeias, de forma a acalmar os mercados, vieram esclarecer que as obrigações altamente subordinadas Additional Tier 1 “são e continuarão a ser uma componente importante da estrutura de capital dos bancos europeus”.

Segundo a Bloomberg, a liquidação das obrigações é a maior perda até agora para o mercado de AT1 europeu, que no total é de 275 mil milhões de dólares, eclipsando de longe um outro caso em que os títulos de dívida foram dizimados na resolução de um banco. Refere-se a outro tipo de títulos que foram totalmente amortizados, o que se traduziu numa perda de 1,35 mil milhões de euros (1,44 mil milhões de dólares) sofrida pelos titulares de obrigações júnior do Banco Popular em 2017, quando foi absorvido pelo Banco Santander por um euro para evitar um colapso. Mas neste caso espanhol, ao contrário de agora, o capital também foi anulado.

Num cenário típico de resolução bancária (bail-in), os acionistas são os primeiros a sofrerem perdas antes de as obrigações AT1 serem declaradas não pagas pelo emitente. Foi por isso que a decisão de anular a dívida mais arriscada do banco – e não o capital dos seus acionistas – provocou uma resposta furiosa por parte de alguns dos detentores de obrigações do Credit Suisse AT1.

“Isto não faz sentido”, disse Patrik Kauffmann, um gestor de carteiras da Aquila Asset Management AG. “Isto será um golpe total para o mercado AT1. Pode citar-me sobre isso”, disse à Bloomberg.

Kauffmann acredita que o dinheiro deveria ter ido para os detentores da AT1, não deixando nada para os acionistas, pois “a antiguidade na estrutura de capital tem de ser respeitada”.

A Pacific Investment Management, a Invesco Ltd e a BlueBay Funds Management estavam entre os muitos gestores de ativos detentores de títulos AT1 do Credit Suisse, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

No mesmo comunicado, o Conselho Único de Resolução, a Autoridade Bancária Europeia e a Supervisão Bancária do BCE congratulam-se com o conjunto abrangente de ações tomadas ontem pelas autoridades suíças a fim de assegurar a estabilidade financeira. “O sector bancário europeu é resiliente, com níveis robustos de capital e liquidez”, garantem.

https://jornaleconomico.pt/noticias/obrigacoes-subordinadas-de-16-mil-milhoes-do-credit-suisse-usadas-para-capitalizar-o-banco-1008552

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