Tem crescido a especulação de que a subida da inflação e a evolução favorável da economia irão permitir ao BCE abrandar os estímulos monetários, diminuindo o ritmo de compras de ativos. A subida das taxas de longo prazo do euro – porque as de prazo até 2 anos continuam perfeitamente ancoradas – seguiu-se à que se tinha previamente registado nos EUA.

Curiosamente, esta semana o movimento tem sido inverso porque quer o BCE quer a Fed têm dado a entender não considerarem que o fenómeno inflacionista seja duradouro. Em todo o caso, parece claro à luz dos dados atuais que o mínimo nos juros soberanos já ficou para trás e que estamos num processo normalização que implica a subida das taxas de juro de longo prazo.

Contudo, não parece ser do interesse da maior parte dos agentes económicos que as taxas de juro subam muito ou depressa, arriscando um revés no processo de recuperação económica e dificultando a gestão das dívidas, públicas e privadas, numa Europa mais endividada após a Covid-19.

Se é verdade que o mandato do BCE passa pela promoção da estabilidade de preços, levando a inflação a níveis próximos de 2%, o seu principal objetivo é a manutenção da UEM, ou seja, do euro. No atual enquadramento, parece inverosímil arriscar uma nova “crise da dívida” que colocaria certamente em causa a coesão da zona euro, senão mesmo a sua existência. Portanto, o BCE terá todo o interesse em mitigar a subida dos juros soberanos, sobretudo numa fase em que os Estados estão (mais) endividados.

A discussão acerca da retirada de estímulos já vai acontecendo informalmente, mas o BCE deve afastar essa possibilidade no imediato para não “assustar” o mercado. O grande debate do momento passa pela transitoriedade ou não da inflação e pela atuação futura dos bancos centrais nos próximos 24 meses.