Esta foi uma semana particularmente agitada no que toca a comentários de banqueiros centrais. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, começou na terça-feira por afirmar que a economia europeia está a avançar de forma positiva, indiciando que os atuais estímulos monetários podem eventualmente ser “ajustados”. O mercado revelou-se sensível à mudança de tom em relação ao estímulos – há alturas mais sensíveis – e as taxas de juro subiram significativamente, o euro valorizou e os índices accionistas caíram.

Seguiu-se Mark Carney, do Banco de Inglaterra, que indicou que o banco central do Reino Unido pode ter que remover os estímulos monetários do seu lado, caso a economia melhore. Uma mensagem contrária à que tinha passado há uma semana, que fez com que a libra valorizasse e as taxas de juro subissem.

Na quarta-feira, tivemos ainda Vitor Constâncio, vice-presidente do BCE, a acautelar-nos de que a reação do mercado às palavras de Draghi havia sido exagerada. Isso gerou mais volatilidade no euro, nas taxas de juro e nos mercados acionistas, mas os preços já não voltaram para os níveis em que estavam antes do discurso. Parece que o mercado liga mais às palavras indiretas de Draghi do que aos avisos diretos de Constâncio.

As decisões dos bancos centrais são naturalmente importantes para os mercados financeiros. São os bancos centrais que estabelecem o custo do dinheiro, uma variável crucial para determinar o valor justo dos ativos financeiros. Mas será assim tão importante escrutinar ao milímetro cada letra do discurso dos responsáveis pela política monetária? Serão os discursos planeados de maneira a dar sugestões ao mercado sobre a política monetária? Ou serão os comentários espontâneos e as sugestões não ponderadas? Em que casos têm maior importância? Não existe uma resposta clara, mas também não é necessária.

Por vezes, parece que o mercado simplesmente precisa de um pretexto para mexer. Seja uma palavra diferente usada por Draghi, ou outro qualquer detalhe. Podia ter sido um indicador económico acima ou abaixo do esperado, mas desta vez foram as palavras do presidente do BCE. É como se os investidores estivessem todos numa sala a olhar uns para os outros em silêncio, com pouca convicção sobre a direção do mercado (e sem revelar posições), até que um deles é beliscado e decide fazer uma compra. Não encontrando vendedor, o investidor vê-se obrigado a subir o preço da ordem de compra. Algo que parece simples, mas que revela o posicionamento de todos os outros investidores. A estes preços, não existem vendedores no mercado! É por isso hora de comprar!

É, no entanto, preciso ter cuidado para perceber se o que fez o mercado mexer foi de facto só um beliscão, num dos investidores ou se foi algo material com impacto real e relevante nas expetativas de todos os investidores da sala. Desta vez, parece-me ter sido apenas um beliscão.