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BCP anuncia medidas de 4,7 mil milhões para apoiar clientes atingidos pela crise do Covid-19

O presidente do BCP , Miguel Maya, revelou que está a preparar um pacote de medidas para apoiar famílias e empresas devido à crise provocada pelo novo coronavírus.
  • Miguel Maya
26 Março 2020, 08h38

No Programa Negócios da Semana, na SIC Notícias, José Gomes Ferreira convidou os CEO do Novo Banco e do BCP, para debater a moratória e as linhas de crédito aprovadas para ajudar a economia que ficou sem liquidez quando se eu o lockdown para travar a propagação do coronavírus.

Miguel Maya, CEO do BCP, revelou que está a preparar um pacote de medidas para ajudar os clientes a fazer face à crise provocada pelo novo coronavírus no valor de 4,7 mil milhões de euros. Mas o banco espera a legislação para poder apresentar as medidas de apoio à falta de liquidez fruto da crise do Covid-19.

“Nós temos preparado um conjunto de medidas para apoiar a economia. Temos um pacote de mais de 4,7 mil milhões de euros. Estão prontas, mas só anunciaremos ao mercado quando tivermos condições”. O regime nacional das moratórias deve ser aprovado esta semana pelo Governo.

Miguel Maya não quer anunciar as medidas ao mercado antes da aprovação do regime nacional das moratórias, para evitar que os clientes sejam marcados antes como crédito reestruturado e depois têm dificuldades de aceder ao sistema público.

O Santander Portugal, a CGD, o Crédito Agrícola, e o BPI já anunciaram moratórias de 6 meses a título privado, antes mesmo do regime público de moratórias que deverá ir a Conselho de Ministros esta semana.

“Não há negociações entre a banca e o Governo, isso é uma ficção. Perguntaram-nos e nós demos a nossa opinião, foi só isso. O Governo está a fazer um diagnóstico correto. Sem um diagnóstico correto não é possível apresentar medidas”, disse o CEO do Millennium bcp.

“Falta o diploma legal que permita que essas reestruturações se enquadrem numa moratória e que essa não marque os clientes em dificuldades e assim possam continuar a ter acesso ao sistema financeiro”, disse.

A expetativa é que a negociação com as autoridades europeias seja concluída até ao final da semana para lançar o regime das moratórias sem pesar no capital dos bancos.

A EBA – Autoridade Bancária Europeia já autorizou que estas moratórias específicas possam não agravar os rácios de NPL.

A SIC perguntou ao CEO do BCP se cortou comissões aos clientes, nesta fase. Miguel Maya respondeu que o BCP tem 470 sucursais que estão abertas todos os dias. O BCP diz que tem “um conjunto de isenções que foram apresentados no MB Way, etc”, confessou.

Já o Novo Banco, segundo António Ramalho, CEO, mantém os 354 balcões abertos nesta circunstâncias (Estado de Emergência) e 1.016 ATMs.

“Introduzimos no dia 13 de março uma redução de comissões interbancárias, cash advance, das comissões dos comerciantes para permitir uma transacionabilidade maior com cartões, anuidade gratuita para o cartão pré-pago, entre outras”, disse Ramalho. Tudo com vista a melhorar as transações online. “O Novo Banco tinha uma média de 85 transações financeiras por cada balcão. Esse valor desceu para 43 por balcão neste momento e estamos a trabalhar com 30 transações financeiras no balcão. Estamos a conseguir mais transação pelas nossas apps”, disse o CEO do Novo Banco.

“Vamos ter um segundo vírus, que é o vírus 20, que é o vírus económico”, alertou António Ramalho, referindo-se à crise económica pós-crise da saúde e do Covid-19. Nessa altura os bancos vão ser fundamentais para dar liquidez à economia.

“Já estamos a dar algumas moratórias neste enquadramento, e estamos preparados para que essa moratória pública seja implementada no momento em que seja enquadrada”, disse o CEO.

“As regras da EBA que surgiram hoje, dizem que se a moratória tiver um enquadramento comum ou for enquadrada por regras legais não vai criar problema às empresas no futuro”, disse ainda António Ramalho.

“É fundamental esta moratória porque alivia e permite que a liquidez do sistema se organize a favor dos particulares, nomeadamente no pagamento dos salários”,  acrescentou.

Sobre as linhas de créditos, o protocolo entre os bancos, as sociedades de garantia mútua já está pronto. Mas até agora os 3 mil milhões de linhas de crédito garantidas pelo Estado, ainda não começaram a ser  emprestados. Esse foi um dos temas do debate televisivo.

O spread nestas novas linhas começa em 1% e acaba em 1,5%. Mais 1% de comissão de garantia mútua e o banco pode cobrar até 0,5% de comissão de gestão do dossier. Soma quase 3%. Miguel Maya disse que “3%, no momento que  estamos a viver é muito”. O BCP diz que vai fazer uma “gestão equilibrada” dos preços, entre 1% e 1,5%.

Questionados sobre a soma de custos a esse spread, que projeta o custo para o cliente nos quase 3%, Maya deixou o repto: “Quem é que paga os 47 milhões que o BCP paga ao Fundo de Resolução nacional?”

Recorde-se que os bancos pagam -0,75% ao BCE para obter  liquidez.

Os bancos vão ter cinco dias para receber e analisar as propostas de concessão de crédito; mais dois dias para as sociedades de garantia mútua e mais um mês para o banco negociar com cliente. Mas o CEO do NB promete celeridade.

“Estamos a organizar três conselhos de crédito por semana”, confessou Ramalho.

Miguel Maya, por sua vez, disse que chamou o diretor de marketing e disse que em vez dos 30 dias do protocolo,  pediu um prazo de sete dias para dar resposta ao cliente.

Miguel Maya não quer descurar a rentabilidade do BCP, e o CEO salientou isso na SIC.

Por sua vez o CEO do Novo Banco admitiu que quer chegar a abril com a economia com liquidez. A banca pode transmitir liquidez ao mercado.

O presidente executivo do Novo Banco diz que “o custo do funding do Novo Banco é de 0,43% e é a partir deste valor que se teria de colocar o 1,2% de custo operativo que já dá um custo superior a 1,5% que é o que está em cima da mesa”. António Ramalho defende que não se deve ter um discurso de facilitismo, mas garante que há agora “um conforto diferente face a 2011”, altura da crise financeira, em que os bancos financiaram as empresas a 8 e 9%, por não haver liquidez disponível no mercado.

O CEO do BCP, por outro lado, disse que aqueles empresários que fizeram reestruturações e que ainda estão marcados como tendo feito reestruturações por dificuldades financeiras, vão ficar sem acesso a tudo. Estão excluídos das linhas e estão marcados como NPE (Non Performing Exposure), “são uma minoria, mas ainda são muitos”, disse Miguel Maya.

Recorde-se que muitos empresários queixaram-se dos critérios exigidos às empresas para serem elegíveis para estes créditos bonificados que inicialmente eram consumados por uma linha de 200 milhões de euros (a primeira anunciada pela Economia).

Nesta linha as condições eram menos atrativas do que na nova linha de três mil milhões. No primeiro caso os juros chegavam aos 3,2%.

“A linha de 200 milhões de euros tem, no nosso caso, pedidos, mais 293 milhões na primeira volta, o que significa que só nós esgotaríamos a linha e que todos os outros bancos estão na mesma circunstância“, revelou António Ramalho na SIC. “Neste momento tenho mais de 550 milhões aprovados em empresas e simultaneamente mais 50 milhões aprovados em pequenos comerciantes”, acrescentou o CEO.

“A verdade é que o montante da necessidade das operações que ainda estão a ser feitas ao abrigo da linha dos 200 milhões têm de ser transferidas rapidamente para a linha dos 3.000 milhões, que tem o protocolo já assinado”, disse ainda.

Críticas que têm sido feitas ao crédito com garantia 

Segundo um cliente do BCP, por exemplo, o banco enviou resposta a empresas que queriam ter acesso à linha de crédito Capitalizar 2018 – Covid 19, que detém duas vertentes “Fundo de Maneio e Plafond de Tesouraria”, e foi pedido às empresas que apresentassem uma declaração explicitando os impactos negativos do surto de Covid-19 na sua atividade económica que fundamentem a necessidade específica de obtenção de financiamento no âmbito desta Linha de Crédito, de acordo com minuta a disponibilizar pela Entidade Gestora da Linha.

O montante máximo de operação por empresa é de 3 milhões de euros, respetivamente 1,5 milhões de euros na Dotação Fundo de Maneio e 1,5 milhões de euros na Dotação Plafond Tesouraria.

Os requisitos exigidos às empresas é terem a situação regularizada junto da Administração Fiscal e da Segurança Social à data da contratação; sem incidentes não regularizados junto da Banca à data da contratação; apresentarem situação líquida positiva no último exercício (valor superior a zero), exceto se a empresa não tiver um exercício fechado ou apresentar esta situação regularizada em balanço intercalar certificado pelo TOC / ROC, reportado ao final de qualquer mês e aprovado até à data de enquadramento da operação por parte da Entidade Gestora da Linha; e tenham resultados líquidos positivos em dois dos quatro últimos exercícios ou dois anos de resultados positivos se a empresa tiver menos de quatro exercícios.

São também exigidos capitais próprios do exercício positivos. Se o Cliente for um empresário em nome individual (ENI), terá de ter contabilidade organizada, devendo apresentar uma declaração de início de atividade com contabilidade organizada (um ENI com contabilidade organizada e que esteja ao abrigo do regime simplificado para efeitos fiscais não será considerado elegível para esta Linha de Crédito).

Para ter acesso é preciso as empresas desenvolverem atividade que se enquadre num dos setores de atividade elegíveis.

 

 

 

 

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