“Depois de mais de uma década do banco ser suportado pelos acionistas é a vez de inverter o ciclo”, disse o CEO do BCP, Miguel Maya, no anúncio do Plano Estratégico-2025-2028.
“Cumprindo a política de dividendos que temos, o pay-out ratio que queremos ter ao longo de todos os anos do plano estratégico. é a distribuição de 50% dos resultados, desde que o banco atinja a rentabilidade, ou seja, desde que gere resultados para isso”, foi a novidade deixada pelo CEO do BCP, Miguel Maya, na apresentação do Plano Estratégico 2025-2028, que ocorreu esta quarta-feira no mesmo dia da divulgação dos resultados líquidos do terceiro trimestre.
A distribuição pode subir para os 75% dos lucros através de um programa de recompra de ações, caso o banco cumpra determinados objetivos (nomeadamente um rácio de capital acima de 13,5%).
Miguel Maya explicou que este é o plano ambicioso adequado a um novo ciclo do banco. As principais linhas do plano estratégico incluem que nesse período (2025-2028) o banco “terá capacidade de gerar 4 mil a 4,5 mil milhões de euros (correspondendo a uma taxa de crescimento anual de 5% a 6%)”, em resultado líquido acumulado, o que aponta para lucro médio anual de mil milhões de euros.
Isto claro, “sujeito à aprovação do supervisor e concretização dos objetivos de capital e de negócio em Portugal e na área internacional assim como atingir objetivo de CET1 definido”.
Metade dos lucros anuais vai ser distribuído anualmente aos acionistas, cujos maiores são a Fosun com 20,03% e a Sonangol com 19,49%. Isto se os astros estiverem a favor dos planos da administração do BCP. Em termos de resultados, a meta para 2028 é superar em ROE os 13,5%.
“A melhor proteção do banco é ter acionistas satisfeitos com o banco“, disse o CEO.
O BCP fala num crescimento médio anual projetado do bookvalue per share + rendimento dos dividendos, de cerca de 15% por ano no plano estratégico 2025-28.
O maior banco privado português estabelece como prioridade “assegurar rentabilidade acima do custo de capital ao longo do ciclo, remunerando adequadamente os acionistas, sem prescindir de um balanço robusto e resiliente”.
“O plano de distribuição de resultados é um compromisso, mas é preciso que as metas sejam alcançadas para o realizar. É preciso que o BCP mantenha um balanço sólido e capitais robustos”, reforçou o banqueiro.
Miguel Maya explicou ainda que a meta do rácio de capital CET1 para o horizonte do novo plano estratégico, acima de 13,5%, que serve de referência a este objetivo de distribuição de lucros, já considera a almofada anticíclica que o Banco de Portugal anunciou e que entrará em vigor a partir de janeiro de 2026. Os bancos vão ter de constituir uma almofada contracíclica no rácio de capital, que corresponderá a 0,75% sobre a exposição dos bancos ao setor privado não financeiro em Portugal.
Na conferência de imprensa de apresentação das contas do banco até setembro, o presidente do BCP, Miguel Maya, anunciou ainda que “o conselho de administração irá submeter um requerimento ao supervisor para executar recompra de ações de 25% do resultado líquido anual em 2024”, sem avançar o número.
Este programa não está incluído na meta do plano estratégico de 2025-2028.
O BCP registou lucros de 714,1 milhões até setembro a subirem 9,7% face ao período homólogo, em Portugal os lucros ascendem a 606 milhões, mais 8,8% face ao mesmo período de 2023.
Miguel Maya sublinhou a “forte capacidade de geração orgânica de capital”.
A margem financeira caiu 0,3% para 2.110,8 milhões de euros, a provar que o pico da subida da margem pela subida dos juros já foi atingido. A taxa de margem está em 3,05% (em Portugal 2,24%), mas “ainda resiliente”, disse o CEO. Já as comissões subiram 4% para 601,8 milhões.
Os custos aumentaram 10,8% no grupo para 946,6 milhões, piorando o cost-to-income para 35%. Só em Portugal os custos subiram 5,0% para 483,2 milhões (pondo o rácio de eficiência nos 33%). “O banco está a investir no reforço do banco, está a investir nos colaboradores”, justificou o CEO.
O BCP destaca os sólidos rácios de capital, CET1 de 16,5% (rácio oficial, sem os resultados do terceiro trimestre deste ano, de 16,2%) e rácio de capital total de 20,8% (rácio oficial, sem os resultados do terceiro trimestre , de 20,5%), correspondendo, respetivamente, a um aumento de 152 pontos base (p.b.) e de 134 p.b. face ao período homólogo, evidenciando a capacidade de geração orgânica de capital.
O banco de investimento Jefferies apressou-se a elogiar o plano estratégico do BCP a que atribui um price-target de 0,54 euros e recomendação de “buy” (compra).
“Não há nada que não goste no plano estratégico do BCP para 2025-28, revelado esta quarta-feira. Uma vez que não só proporciona uma subida de mais 10% para os lucros em 2025-28, como também acrescenta cerca de 500 milhões de euros de distribuições adicionais de capital face ao consenso. Também vemos uma probabilidade de subida do rácio de capital do BCP até ao final de 2028, apesar do generoso plano de distribuição. A cereja no topo do bolo foi uma subida de 4% do resultado antes de impostos no terceiro trimestre de 2024, embora inclua alguns one-offs”, diz o analista do Jefferies que reitera a recomendação de compra para as ações.
Garantia pública “muito importante” para jovens
Miguel Maya, questionado sobre a garantia pública no crédito à habitação aos jovens, disse que considera “a medida globalmente positiva” mas “não é algo que resolva o problema de todos os jovens nem o problema da habitação em Portugal”.
“Contribui para que um conjunto de jovens que estão a entrar no mercado de trabalho e não têm suporte familiar para ajudar a pagar uma entrada para uma casa, possam não ter de constituir uma poupança ao mesmo tempo que pagam rendas”, disse o CEO que garantiu que o banco estará empenhado e preparado para implementar rapidamente a garantia.
“Para esse segmento, é muito importante” poder contar com a garantia pública que permite financiar até 100% a compra de casa, desde que salvaguardados os limites como os da taxa de esforço máxima, disse.
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