O BCP registou um resultado anual histórico de 856 milhões de euros graças à margem financeira, mas a época dourada acabou em setembro. O resultado do quarto trimestre do maior banco privado português somou 205 milhões de euros, o que traduz uma queda de 16,4% face ao terceiro trimestre quando os lucros foram 245,2 milhões de euros.
A receita da evolução positiva da margem financeira (diferença entre os juros cobrados no crédito e os pagos nos depósitos) explica, em parte, a inversão da subida dos lucros que se registou no último trimestre do ano.
É o facto de o pico da margem financeira ter sido no terceiro trimestre que explica, em parte, que os resultados do quarto trimestre tenham sido inferiores aos do 3º trimestre, como admitiu o CEO do BCP, Miguel Maya na conferência de imprensa de apresentação de contas de 2023.
A margem financeira que nos meses de julho a setembro totalizava 743,1 milhões, nos últimos três meses do ano caiu para 708 milhões de euros, ou seja houve um recuo de 4,7%.
Perante o facto de a subida da margem financeira já ter atingido o seu pico no terceiro trimestre, Miguel Maya referiu que “isso vai ter um impacto” nas receitas do banco.
O que parece certo é que a trajectória da “correção” em baixa dos lucros já começou e vai continuar durante os próximos trimestres.
Os lucros do BCP de 2023 foram impulsionados pela subida da receita dos juros que no acumulado do ano registam um aumento de 31,4% para 2.825,7 milhões.
Com a normalização do balanço do BCP a expectativa é alocar no futuro menos imparidades, reconheceu o CEO do banco. “Temos todas as condições para manter a rentabilidade acima do custo do capital”, sublinhou o banqueiro. A rentabilidade dos capitais próprios (ROE) atingiu os 16% em 2023.
Miguel Maya realçou a elevada dimensão das imparidades e outras provisões que no acumulado do ano somaram 1.099,9 milhões de euros, mais +4,1% que em 2022. Sendo que as dotações para imparidade do crédito (líquidas de recuperações) totalizaram 240,0 milhões de euros, correspondendo a uma redução de 20,2% face aos 300,6 milhões de euros contabilizados no ano anterior, “refletindo a evolução favorável registada quer na atividade em Portugal, quer principalmente na atividade internacional”.
No que toca à atividade só em Portugal o resultado líquido atingiu os 724,9 milhões em 2023 representando um aumento de 111,0% face a 2022, influenciado pelo aumento da margem financeira, gestão rigorosa dos custos operacionais e pela redução das imparidades.
“A normalização das taxas de juro produziu um efeito positivo por via do repricing do crédito que em conjunto com o maior rendimento da carteira de títulos, mais que compensam os efeitos relacionados com as taxas dos depósitos e do wholesale funding, permitindo face ao período homólogo, um crescimento da margem financeira de 54,2% (+515,7 milhões)”, avança o banco.
Na atividade em Portugal, as dotações para a imparidade do crédito (líquida de recuperações) somaram 207,6 milhões de euros em 2023, situando-se 5,0% abaixo dos 218,4 milhões reconhecidos em 2022.
O menor nível de provisionamento, face ao ano anterior, reflete, por um lado, a melhoria no perfil de risco da carteira de crédito e, por outro, a recuperação de relevantes non-performing exposures, explicou o banco.
BCP vendeu 820 imóveis
O banco vendeu 820 imóveis em 2023 (1.541 imóveis em 2022), tendo o valor de venda excedido o valor contabilístico em 13 milhões de euros. Isto porque estavam contabilizados por 80 milhões (após imparidades) e foram vendidos por 93 milhões de euros.
O BCP tinha em 2023 em carteira, imóveis recebidos por execução de crédito em incumprimento, no valor de 169 milhões de euros, sobre os quais tinha constituído imparidades de 68 milhões, pelo que o valor líquido dos imóveis no fim de 2023 é de 100 milhões.
A carteira líquida de imóveis recebidos por recuperação reduziu-se 45% entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023. O valor da carteira, calculado por avaliadores independentes, situa-se 39%
acima do respetivo valor contabilístico, revela o BCP.
Em 2022 o valor bruto dos imóveis recebidos em dação era de 262 milhões, e as imparidades constituídas eram de 78 milhões baixando o valor líquido dos imóveis para 183 milhões. Como no fim de dezembro tinha 100 milhões, reduziu em 83 milhões de euros os imóveis detidos em balanço recebidos por recuperação (foreclosed assets).
O banco reporta ainda uma queda de 45 milhões de euros nos fundos de reestruturação.
Assim, entre imóveis e fundos de reestruturação o BCP reporta uma redução combinada de 14,0% face a dezembro de 2022.
Nos fundos de reestruturação, o valor em 2023 no balanço do banco era de 365 milhões, 11% menos que os 411 milhões em 2022.
Destes, 28 milhões são os fundos de reestruturação com ativos industriais e 337 milhões de euros são os fundos de imobiliário e turismo.
O rácio de crédito malparado (NPE) do BCP desceu para 3,4% na atividade global do banco no final de 2023, contra 3,8% em 2022.
O BCP salientou nas contas a redução expressiva de ativos não produtivos face a dezembro de 2022. O stock de NPE, em termos consolidados, diminuiu para 1.952 milhões de euros em 31 de dezembro de 2023, apresentando uma redução de 266 milhões de euros face ao final de 2022.
O BCP vendeu no ano passado 48 milhões de NPL (carteiras de malparado), revelou Miguel Maya à margem da apresentação dos resultados.
BCP regressa aos dividendos
O BCP está de regresso à distribuição de dividendos depois dos lucros históricos de 856 milhões de euros. A comissão executiva liderada por Miguel Maya vai propor aos acionistas a distribuição de dividendos correspondentes a um payout ratio de 30%, calculado sobre o resultado líquido do exercício de 2023, o equivalente a 256,8 milhões de euros.
O payout passa assim dos 10% para os 30%. Miguel Maya considerou 2023 o “ano de transição”, e a administração espera que 2024 seja o “ano de normalidade” para o BCP. A normalização do balanço é assim a palavra de ordem do maior banco privado português, o único cotado e que integra o índice europeu Stoxx 600.
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