O anunciado pedido de insolvência da distribuidora de papel Inapa deixa vários lesados. Desde logo os acionistas, que, tendo em conta a capitalização bolsista da empresa (que até à suspensão das ações era de 15,47 milhões de euros), se traduz numa perda de cerca de sete milhões de euros para a Parpública, maior acionista da empresa com 44,89%. Depois a Nova Expressão com 10,85%, perde 1,5 milhões de euros e o Novobanco com 6,55% perde 1,01 milhões de euros.
O Novobanco faz ainda parte do grupo de bancos com crédito concedido à Inapa. O crédito do Novobanco ronda os 20 a 30 milhões de euros, segundo fontes familiarizadas com o assunto.
Recorde-se que em janeiro de 2019, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) anunciou a venda da participação de 33% que tinha na Inapa à Parpública, por 15,8 milhões de euros.
A 31 de dezembro de 2023, a dívida bancária da papeleira superava os 200 milhões de euros, sendo que o BCP, a CGD e o Novobanco, segundo as fontes conhecedoras do processo, são os maiores credores.
O relatório e contas de 2023 da Inapa revela que os empréstimos bancários somavam no fim do ano passado, 115,3 milhões de euros a que acrescem obrigações convertíveis e passivos de locação financeira, elevando o total para 237,6 milhões de euros.
O BCP, que chegou a ser acionista da Inapa com 30% e foi reduzindo a participação ao longo do tempo, está entre os maiores credores bancários, segundo as nossas fontes.
Os bancos no geral já tinham provisões constituídas para estes créditos, segundo fontes da banca, pois há muito que antecipavam o risco.
A história remonta a março quando a Inapa foi ter com a Parpública a revelar que precisava de uma injeção de 15 milhões de euros para reestruturar a empresa, o que implicaria um hair-cut da dívida bancária. Mas a mudança de Governo não ajudou à tomada de decisões. Esse pedido, segundo o gabinete de Joaquim Miranda Sarmento, continuava em análise quando o segundo pedido alternativo de financiamento urgente de 12 milhões, a ser reembolsado em outubro, foi remetido à Parpública.
Esse dinheiro era a tábua de salvação perante uma carência de tesouraria de curto prazo da sua subsidiária Inapa Deutschland, GmbH em montante de 12 milhões de euros.
Mas acabou por não se encontrar uma solução de financiamento no prazo estabelecido de acordo com a lei alemã (30 dias) – e em caso de violação do prazo a administração de Frederico Lupi ficava em maus lençóis – o que levou a empresa a pedir um empréstimo de curto prazo, de urgência, aos seus maiores acionistas. O curto prazo pressupunha que em outubro a empresa na Alemanha já teria disponibilidades de tesouraria, segundo estimativas da Inapa e em função da sazonalidade do negócio.
A administração de Frederico Lupi sublinha que fez todos os esforços “atempadamente” para junto de credores e dos acionistas, em especial junto do seu maior acionista detentor de cerca de 45% do capital, a Parpública – Participações Públicas (SGPS), para encontrar soluções, mas não teve sucesso.
O JE sabe que administração nunca conseguiu apresentar diretamente as soluções alternativas ao Governo, tendo sempre que passar pela Parpública.
Os acionistas privados da Inapa – a Nova Expressão com 10,85% e o Novobanco com 6,55% – estavam preparados para financiar 30% do empréstimo de curto prazo pedido pela empresa aos acionistas, apurou o Económico. A Nova Expressão, segundo fontes, tinha já disponíveis 2,4 milhões de euros para financiar a Inapa. O Novobanco também concordou em financiar a Inapa, achando suficiente a proposta de viabilização apresentada pela administração da Inapa. Mas a Parpública, liderada por José Realinho de Matos, chumbou a operação e a Inapa não teve alternativa se não avançar com o pedido de insolvência da Inapa Deutschland (que estava sem liquidez para pagar salários).
Uma vez que esse pedido de insolvência na Alemanha impactará na Inapa IPG, o Conselho de Administração da empresa portuguesa reuniu e analisou a sua situação financeira, “tendo concluído pela consequente e eminente insolvência da Inapa IPG, pelo que deliberou também apresentar a Inapa IPG à insolvência”.
A Inapa tem a sua principal operação na Alemanha e é onde estão a maioria dos quase 1.500 trabalhadores do grupo.
Segundo o relatório e contas de 2023, a distribuidora de papel (mas que também opera dos setores de embalagem e comunicação visual) tem 1.478 trabalhadores e está em 10 países (Portugal, Alemanha, França, Bélgica, Luxemburgo, Espanha, Áustria, Países Baixos, Turquia e Angola).
A empresa, que diz ser “um dos principais distribuidores de papel da Europa Ocidental”, tem a sua principal operação na Alemanha onde comprou várias empresas nos últimos anos. Em 2023, foi desse mercado que vieram mais de 60% da faturação do grupo e onde contava com 821 trabalhadores.
Em França – onde comprou uma empresa em 2016 – é o segundo país com mais empregados, 330, seguindo-se Portugal, com 204 trabalhadores, segundo uma notícia da Lusa.
Em 2023, o grupo Inapa teve 8,0 milhões de euros de prejuízos, face a lucros de 17,8 milhões de euros em 2022, com as vendas a caírem 20% para 968,7 milhões de euros.
No anúncio dos resultados divulgados através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em final de abril, a empresa relacionou os prejuízos com a queda da procura de papel na Europa Ocidental (-25%). Indicou ainda que o EBITDA recorrente caiu 62% para 33 milhões de euros e que as condições de crédito se tinham tornado “mais exigentes”.
Citado nesse comunicado dos resultados, o CEO demissionário, Frederico Lupi, antecipava na altura um período de “enormes incertezas e desafios”, mas considerava que o grupo tem capacidade de resposta, referindo que estavam em curso medidas que o tornavam “mais ágil do que anteriormente, dando-lhe melhor capacidade de resposta aos diferentes cenários” que possa enfrentar.
O relatório e contas explica que, em 2023, a Inapa fez um processo de reestruturação na Alemanha, incluindo a redução da força laboral de 172 trabalhadores.
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