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BdP: Apesar do fim dos estímulos, BCE vai continuar a absorver parte do risco para a dívida

O fim do programa de compra de ativos do BCE levanta dúvidas sobre a potencial subida das ‘yields’ das Obrigações. O risco é reconhecido pelo banco central liderado por Carlos Costa, no mais recente Boletim Económico.
Ralph Orlowski/Reuters
11 Outubro 2018, 13h10

O Banco Central Europeu (BCE) prepara-se para terminar, no final deste ano, com o programa de compra de ativos da zona euro, que implementou durante a crise. Apesar de admitir que é um fator de incerteza para as dívidas soberanas, incluindo a portuguesa, o Banco de Portugal lembra que a instituição liderada por Mario Draghi irá continuar a absorver grande parte do risco.

“As medidas de política monetária anunciadas em junho e setembro podem influenciar o nível e a configuração das curvas de rendimento soberanas na medida em que afetam as duas componentes das taxas de juro de longo prazo”, explicou o Banco de Portugal no Boletim Económico publicado esta quinta-feira.

Após mais de três anos de implementação de estímulos monetários através de um programa de compra de dívida pública e privada, o BCE anunciou em junho que irá baixar o volume de aquisições para 15 mil milhões de euros por mês (metade do montante atual) no último trimestre do ano. Depois de dezembro, as compras irão mesmo chegar ao fim.

Este programa tem sido assinalado com um dos principais fatores para a manutenção de baixos custos de financiamento dos países, principalmente os mais penalizados pela crise como Portugal. Assim, o fim dos estímulos levanta algumas dúvidas sobre a potencial subida das yields das Obrigações. O risco é reconhecido pelo banco central liderado por Carlos Costa, no mais recente Boletim Económico.

Por um lado, o fim das compras mexe com “a componente das expetativas, que reflete a perceção dos agentes relativamente à evolução futura das taxas de juro de curto prazo, mais diretamente afetadas pelas taxas de política monetária”, assinala o BdP.

Por outro, tem impacto “na componente do prémio de maturidade (por vezes designada de risco de duração), que está associado ao excesso de rendimento que os investidores exigem pela exposição a títulos com um maior prazo residual até ao vencimento e, por isso, sujeitos a maiores perdas no respetivo valor de mercado num cenário de subida das taxas de juro”.

O BdP lembra, no entanto, que o BCE irá manter a política de reinvestimento do capital dos títulos que atingem as maturidades durante um período prolongado após o termo das aquisições líquidas, que os mercados estão a apostar seja de cerca de dois anos.

A par dos reinvestimentos, cujos pormenores não são ainda conhecidos, o BCE também já sinalizou que não irá alterar as taxas de juro diretoras, esperando que as mesmas se mantenham nos níveis atuais, pelo menos, durante o verão de 2019.

“A partir do final de dezembro de 2018, ao manter a dimensão do balanço através do reinvestimento do capital dos títulos vincendos no âmbito do APP, o Eurosistema continuará a absorver parte do risco de duração que teria que ser suportado por investidores privados, preservando, deste modo, o caráter acomodatício da política monetária, com efeitos positivos sobre as condições financeiras prevalecentes”, referiu o BdP.

Sublinhou que, em geral, a extração de duração comprime os prémios de maturidade e, por conseguinte, exerce uma pressão descendente e duradoura sobre os prazos mais longos das curvas de rendimento, o que torna o financiamento a longo prazo mais acessível e, assim, promove o investimento e o consumo de bens duradouros.

“Em síntese, havendo uma menor proporção de títulos de longo prazo disponíveis para os investidores privados, estes terão simultaneamente uma maior capacidade de gestão do risco de duração e uma maior apetência para realocar fundos para outros instrumentos (portfolio rebalancing), incluindo a aquisição e o financiamento de capital produtivo. Este processo é considerado o mecanismo-chave de propagação a toda a economia dos efeitos dos programas de compra de ativos realizados pelo banco central”, acrescentou.

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