Falar de mercado de trabalho em termos estatísticos implica, tradicionalmente, falar de taxas de empregabilidade, de desemprego, trabalhadores por conta própria (%) e por conta de outrém (%). Mas será que estes números refletem o que se está a passar na economia e na sociedade, em Portugal e no mundo? Será que revelam a real dinâmica do mercado?

Estamos na era da Gig Economy! Da reinvenção do mundo das profissões. Esta é uma nova forma de gestão de carreira, numa vertente empreendedora, assente em domínios do conhecimento especializado e com ênfase na formação ao longo da vida. E não é algo exclusivo dos millennials!

Há já alguns anos que se fala em Gig Economy, mas só mais recentemente parece haver um foco de atenção neste conceito (leia-se gig enquanto projeto). Também apelidado de mercado de freelancing e composto por trabalhadores independentes, este é um conjunto de pessoas que não tem um contrato de trabalho e que não se move por um vínculo de efetividade para com uma organização. E, por sua opção, sendo que este é o ponto fundamental da questão: há uma tomada de decisão consciente sobre o rumo profissional a seguir! O fenómeno extravasa largamente marcas como a UBER e a Airbnb. Com o suporte das tecnologias, é relativamente fácil ter um negócio online e trabalhar através de várias plataformas para diversas geografias – veja-se o caso da fiveer.com, um dos maiores marketplaces de serviços em regime de freelancing.

É desta franja de mercado que estamos a falar: profissionais dotados de competências (skills diferenciadas), que não se querem prender a um horário full time, a um posto de trabalho das 9h às 18h. Pretendem fazer a gestão do seu horário, decompondo os suas horas de trabalho em vários projetos (no qual acrescentam um valor diferenciador). Pretendem também dar largas à sua criatividade e ter uma diversidade de oportunidades – sob o nome de projetos/desafios, ainda que em horizontes temporais mais diminutos (também apelidados de micro jobs).

É uma mentalidade, uma forma de estar na vida, que tem as suas vantagens (por ex. estímulo à criatividade, flexibilidade e gestão do tempo – o que não quer dizer que se trabalhe menos horas…), mas também tem vários constrangimentos (por ex. um esforço intenso para captação de projetos – new business – e maior pressão por não existir uma remuneração fixa mensalmente, vulgo salário).

Em 2010, a consultora INTUIT previa que, em 2020, 40% da força de trabalho dos EUA fosse independente (INTUIT 2020 Report), mas estudos mais recentes do economista Paul Zane Pilzer apontam para que este número acelere até aos 50%, ou seja, 127 milhões de americanos adultos. Numa outra dimensão, em Portugal e com referência a 2015, a PORDATA apresenta um valor de 17,9% de trabalhadores por conta própria.

Esta reflexão pretende apenas ser um convite e um estímulo ao pensamento crítico dos leitores, dando nota de que esta realidade se pode vir a transformar numa nova normalidade do mercado de trabalho. Bem-vindos à Gig Economy!