A opinião pública está cada vez mais preocupada e sensível com as questões ambientais ao tomar consciência que as cidades apesar de ocuparem apenas 2% da superfície da Terra, consomem três quartos dos recursos a cada ano.

O jornalista e ativista ambiental Fred Pearce alerta-nos, há vários anos, para os consumos urbanos e como estes pressionam cada vez mais a procura por terra cultivável em todo o planeta. Ele é perentório: “precisamos de uma Ecopolis, já”. A resposta do planeamento urbano a esta afirmação pode ser uma oportunidade para alimentar melhor os cidadãos das cidades, ou um atalho para fazer os sistemas alimentares funcionarem de forma sustentável.

A aposta no desaparecimento da agricultura urbana de proximidade, assente na evolução dos modos de vida urbana e no aparecimento das grandes superfícies comerciais associadas à evolução da logística que diminuiu a distância entre custos de distribuição, tem tido um enorme impacto nas políticas públicas de desenho das cidades sustentáveis.

Adicionalmente, a proliferação de inovações científicas e tecnológicas para potenciar novos processos de produção podem ter uma pesada consequência social se os alimentos produzidos, processados, distribuídos, consumidos, desperdiçam os sistemas alimentares urbanos produzidos por hortelãos urbanos.

Se inicialmente apenas ecologistas e investigadores alertavam os poderes públicos a este respeito, progressivamente têm recebido reforços de novos atores que modificam a maneira como todos nós podemos, cidadãos urbanos,  definir soluções ecológicas de proximidade.

E conseguiremos fazê-lo? Todos somos consumidores. Teoricamente, isso dá-nos algum poder. Mas sabemos usá-lo?

Yves Cabannes é afirmativo, os sistemas alimentares desempenharão um papel fundamental no cumprimento da agenda de desenvolvimento sustentável (ODS) pelas cidades. Os processos de cocriação, entre as políticas gerais dos governos e a identificação dos ODS liderados pelas comunidades locais, são o caminho a seguir para resolver as fraquezas estruturais que nos levaram à degradação ambiental. As diretivas da FAO, reforçam esta visão com a necessidade de mecanismos de governança multilateral na sustentabilidade urbana para promover sistemas alimentares resilientes.

Em Portugal, o Orçamento Participativo tem sido um mecanismo para ativamente envolver os cidadãos na priorização dos recursos públicos na implementação de soluções locais. Se analisarmos com atenção os vários  projetos  concretizados, verificamos a existência de exemplos de uma cidadania ativa para a transição ecológica nas cidades.

As hortas urbanas comunitárias destacam-se e assumem um papel significativo a vários níveis, na manutenção do equilíbrio ecológico, protegendo a biodiversidade e ecossistemas urbanos, na melhoria das economias domésticas e da alimentação familiar, bem como no estreitamento das relações sociais, coesão e inclusão social, e relações de vizinhança.

Os municípios de Cascais, Oeiras, Matosinhos ou Amarante, entre muitos outros, aproveitam a agricultura urbana de proximidade para ir mais além e promoverem a qualidade de vida da população em espaços verdes dinâmicos em territórios devolutos, o contacto com a Natureza e hábitos saudáveis.

A partilha de recursos entre os hortelãos urbanos, a confiança gerada pelo sentimento de pertença, são o cenário ideal à geração de um capital social sustentável rumo às Ecopolis nacionais.