Apesar da subida recorde das taxas de juro nos EUA, a inflação voltou a subir em junho, atingindo os 9,1%, o valor mais alto desde 1981. Está em aberto o que se vai seguir.

A reunião do Open Market Committee da Reserva Federal norte-americana (Fed) termina esta quarta-feira – precisamente quando estas linhas forem lidas – e discute-se se a subida da taxa será 75 pontos base ou 1 ponto. As probabilidades estão a 75%-25% para uma e outra.

No início de junho a taxa já tinha sido aumentada 75 pontos base, o maior aumento em 28 anos. As consequências serão importantes, a começar em Wall Street – o S&P 500 cai mais de 20% desde o início do ano, o Dow Jones 13% e o Nasdaq 28%; a questão é quanto mais vão cair com o novo aumento, e quanto isso representará em perda de riqueza para quem tem ações.

Apesar desta subida, o abrandamento do crescimento e a persistência da dinâmica dos preços já levaram a quedas do dólar nos últimos três dias, sendo que o tira-teimas vai ser a divulgação esta quinta-feira do crescimento do produto no segundo trimestre, que pode bem ser um crescimento negativo. Sexta-feira segue-se a divulgação do índice de preços das despesas de consumo das famílias, a medida favorita da inflação da Fed – três dias quentes, portanto.

A subida dos juros deveria levar a uma apreciação do dólar; porém, o mercado já desconta a necessidade de infletir a política e de, com alguma probabilidade, termos descidas da taxa no próximo ano ou em 2024, em parte porque o abrandamento das despesas de consumo e da habitação estão mais fortes que antecipado.

Em conformidade, as taxas sobre os títulos de Tesouro a dois anos são hoje mais baixas que as taxas a um ano – historicamente, as curvas de rendimentos invertidas são um sinal de uma potencial recessão, o atual receio dos mercados, de títulos e cambial.

Na Europa, as novidades estão velhas. Putin bombardeia Odessa depois de se comprometer a deixar exportar cereais e reduz o abastecimento de gás à Europa a 20% em retaliação pelas sanções, argumentando com questões técnicas. Mais duas mentiras. Se permite exportar cereais é para não perder simpatizantes em África, continente mais atingido pela penúria que ele provoca. Só Kissinger acredita nele, uma provável marca da idade.

Menos gás e mais inflação é mau para a Alemanha: o inquérito da Ifo mostra a confiança dos empresários ao nível mais baixo em mais de dois anos. Em França, o Parlamento aprova uma lei que declara guerra aos preços e tenta controlar a inflação, enquanto o Governador do Banco de França publica a carta ao Presidente de título “How can we reduce inflation?” No Reino Unido a inflação está nos 9,4%, um máximo de 40 anos, e a produção industrial cresce ao ritmo mais baixo em mais de um ano.

Walter Benjamin disse, no seu “Peace Commodity” de 1926, que para falar de guerra tem que primeiro se ter conhecido a paz. Em Economia, para se compreender a paz (estabilidade) tem que se ter passado pela guerra (com os preços).