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Bernardo Patrão: “Estratégia de inovação é desafiar pessoas a desenvolverem projetos diferentes e com impacto”

Além de um investimento na inovação interna, a Critical Sofwtare quer apostar nos centros de inovação “quer académicos quer em ecossistemas de startups, acompanhando a criação de conhecimento, as tendências mais marcantes, mas também contribuindo com o nosso próprio conhecimento”, defendeu o novo diretor de inovação da empresa ao JE.
26 Fevereiro 2021, 18h00

A empresa portuguesa Critical Software aposta desde sempre na inovação interna e no mercado, tendo nomeado recentemente Bernardo Patrão como diretor de inovação da empresa. Só a aposta da empresa em inovação interna já gerou sete spin-offs e cinco exits.

Em entrevista ao Jornal Económico, Bernardo Patrão admite que assumir o cargo “é uma missão desafiante mas simultaneamente muito entusiasmante”, sendo que a sua entrada vem reforçar um investimento que a empresa tem feito ao longo dos 20 anos de existência na equipa e nas comunidades onde se insere.

A Critical iniciou a sua atividade na indústria espacial, estando atualmente a trabalhar em diversas áreas, tendo apostado recentemente em dispositivos médicos e e-commerce.

Saiu da empresa em 2012 para criar uma spin-off da Critical. Como é voltar à casa mãe?
Na verdade, sinto que nunca saí a 100% da Critical Software, uma vez que os seus valores também nortearam a Watchful Software e a mim enquanto profissional. De todo o modo, estou muito entusiasmado por poder voltar à Critical e apoiar o desenvolvimento de uma área que me proporcionou uma experiência profissional única. Enquanto diretor de inovação, focar-me-ei na implementação de uma estratégia que desafie o status quo da empresa e faça crescer as oportunidades já existentes de desenvolvimento de todos os colaboradores. Tenho a certeza de que esta é a casa certa para conceber e concretizar projetos inovadores que irão acrescentar valor aos nossos serviços, à comunidade Critical e àquelas em que nos inserimos.

Integra agora a equipa como diretor de inovação. Como é assumir esta posição numa empresa que está sempre a criar e a reinventar-se?
Sinto que voltar à Critical Software é como voltar a casa após uma longa viagem. A cultura de equipa, os valores e o espírito inovador que se incutem desde o primeiro dia não é algo que se esqueça com facilidade e, no regresso, é como reencontrar familiares e amigos que já não víamos há algum tempo.

A nível profissional, estou certo de que é uma missão desafiante, mas simultaneamente muito entusiasmante. Nos últimos anos, a Critical Software mais que duplicou a sua equipa e é imperativo manter a agilidade e irreverência que têm marcado o seu caminho. Assim, surge a necessidade de criar uma área mais sólida e focada em inovação que permita concretizar uma estratégia concertada nesta área. A minha entrada vem reforçar esse investimento que a Critical Software já tem vindo a realizar nas pessoas, no conhecimento que quer criar no futuro e no impacto nas comunidades onde está inserida. A inovação, a criatividade e o engenho estão intimamente ligados à génese desta organização. É esse mesmo espírito inconformado que queremos incutir em todos os membros da nossa equipa.

A Critical já originou 7 spin-offs. Estão a pensar em desenvolver mais algum que possam desvendar?
De momento, não temos novidades para anunciar, no entanto, posso adiantar que todos os dias na Critical nascem ideias e projetos com potencial para serem uma das próximas spin-offs.

Um dos meus principais objetivos é proporcionar aos colaboradores da Critical os mecanismos para terem acesso à mesma oportunidade que me foi concedida, cumprindo assim um ciclo completo de inovação: da ideia ao produto, à empresa que o comercializa, e ao exit.

Do total destas spin-offs resultaram cinco exits. Satisfeitos com os resultados?
Estamos bastante satisfeitos com os cinco exits, uma vez que as spin-off resultaram da abertura que a Critical Software concede aos seus colaboradores para materializarem as suas ideias e iniciativas em projetos reais. Embora 5/7 seja um rácio interessante, queremos ser ainda mais ambiciosos e, colhendo da experiência passada, implementar programas direcionados de mentoria e acompanhamento que nos garantam um rácio superior no futuro.

Qual será a estratégia da Critical no que toca à inovação interna e no mercado?
No que toca à inovação interna, a estratégia é a de desafiar as pessoas a desenvolverem projetos diferentes e com impacto no mundo em que vivemos. Uma das materializações deste objetivo é o contínuo desenvolvimento e expansão do nosso laboratório de inovação, o Fikalab, disponível em todos os escritórios da Critical Software espalhados pelo mundo e do qual todos os colaboradores podem usufruir. Este é um laboratório criado a pensar na lógica da experimentação de tecnologia nas suas mais diversas e variadas formas, dando liberdade às pessoas de fazerem projetos seus sem relação comercial. Acreditamos que este estímulo da criatividade é fulcral para a invenção de soluções verdadeiramente diferenciadoras.

Paralelamente, estaremos focados na contínua melhoria dos serviços que colocamos à disposição no mercado. Aqui, iremos investir especificamente em áreas de conhecimento tecnológico que a Critical considera chave para o futuro. Para enumerar algumas, a Inteligência Artificial, a (cada vez mais) relevante área da Cibersegurança e a área da Experiência do Utilizador aplicada a sistemas críticos, focada, por exemplo, em garantir que ninguém inadvertidamente causa um incidente internacional por carregar no botão errado.

Além destes investimentos, temos também como ambição clara ser um exemplo de inovação no mundo. Para isso, estamos ligados aos mais diversos centros de inovação, quer académicos quer em ecossistemas de startups, acompanhando a criação de conhecimento, as tendências mais marcantes, mas também contribuindo com o nosso próprio conhecimento.

Qual a aposta mais importante que a Critical está a desenvolver atualmente?
Eu diria que, historicamente, a aposta mais importante da Critical são as pessoas e as nossas comunidades. Neste momento especialmente desafiante para os nossos colaboradores e as suas famílias, a Critical está a desenvolver um conjunto de iniciativas que permitem, de formas diferentes, nutrir a nossa comunidade, ajudam a manter uma atitude positiva relativamente ao futuro e suavizam a adaptação a uma nova realidade que veio para ficar.

Estão a pensar colaborar com mais instituições para a implementação do Fikalab?
O Fikalab é o laboratório de inovação que disponibilizamos em todos os escritórios da Critical Software para que qualquer colaborador possa ter acesso a tecnologia de ponta e desenvolver projetos de interesse pessoal e com impacto na comunidade. A iniciativa existe há cinco anos e a experiência tem sido tão positiva, que decidimos alargar para fora de portas. Começámos por abrir um espaço no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, semelhante ao que temos nas nossas instalações, mas focado na comunidade académica aí inserida. Temos outros projetos implementados em diversas áreas da sociedade civil, desde uma rede de utilização gratuita dedicada à Internet das Coisas (IoT) em Coimbra, como também projetos de cariz social, sendo exemplos a adaptação de brinquedos para crianças com paralisia cerebral, em parceria com a Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra, ou, mais recentemente, a impressão 3D de viseiras para ajudar no combate à COVID-19.

Estamos a considerar novas parcerias, quer com instituições de ensino, quer com clientes e parceiros, mas de momento, ainda não temos nada a anunciar.

Qual a reação que têm recebido por parte da comunidade em relação às criações da empresa?
Alguns dos nossos projetos têm impacto direto na sociedade e nas comunidades onde estamos inseridos. Relativamente aos projetos de cariz social, a reação tem sido sempre entusiástica, embora deva confessar que, invariavelmente, quem sente que está a beneficiar são os nossos colaboradores e voluntários. Existem outros projetos direcionados à comunidade, como um mais recente que permite às nossas pessoas, simultaneamente, contribuir para o ecossistema em crise da restauração e ajudar famílias carenciadas que precisam de apoio para obter refeições.

Queremos ir ainda mais além. A Critical recentemente redefiniu o seu objetivo principal. Deixou de ser o tradicional bottom-line, ou seja, lucro e passou a ter um objetivo tripartido: pessoas (People), planeta (Planet) e economia (Profit). Passámos de um P para um triple P, de
um bottom-line para um triple bottom-line.

Esta redefinição para um triple bottom-line não é algo que fica apenas no papel, mas que se tem vindo a demonstrar em ações concretas como, por exemplo, a subscrição de um fornecedor de eletricidade renovável, alinhado com a economia social (Coopernico).

Estamos empenhados em desenvolver a nossa comunidade de quase 1000 pessoas, mas também as comunidades onde nos inserimos e a inovação é um dos canais que nos ajuda a cumprir essa missão.

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