Apesar de Trump ainda não ter concedido a sua derrota eleitoral e estar a dificultar ao máximo o processo de transição para a administração de Biden, o presidente eleito vai fazendo o que pode para preparar uma entrada em funções que consiga responder com eficácia aos enormes desafios que enfrenta.
Como alertou esta semana Susan Rice no “The New York Times”, o facto de Trump não permitir a passagem de informação e negar acesso a todos os elementos do ramo executivo está a impedir trocas vitais de dados que poderiam ajudar a combater a Covid-19 e a arrancar com a economia, colocando mesmo em risco a segurança nacional.
Biden sabe muito bem ao que vai. Como o próprio tornou claro, os EUA enfrentam quatro crises históricas: a pior pandemia num século, a pior crise económica desde a Grande Depressão, o mais premente apelo para a justiça racial desde os anos 60 e “a inquestionável ameaça das alterações climáticas”.
O tempo se encarregará de comprovar a eficácia da nova administração na resolução destes enormes problemas que enfrenta. Mas, infelizmente, para enfrentar esses desafios a administração de Biden e Harris apresenta para já evidentes tonalidades de esquerda no seu discurso que mais soam a chavões demagógicos do que a soluções efetivas.
Na área económica é declarado que “assistimos ao segundo resgate em 12 anos para as grandes corporações e Wall Street. Enquanto isso, as pequenas empresas tiveram que passar por vários obstáculos e muitas não conseguiram aceder ao auxílio de que precisavam. O presidente eleito Biden está a trabalhar para garantir que a América corporativa finalmente pague a sua parte justa de impostos, coloque os seus trabalhadores e comunidades em primeiro lugar, em vez dos seus acionistas, e respeite o poder e a voz dos trabalhadores no local de trabalho.”
O presidente eleito coloca-se no seu discurso do lado das pequenas empresas, dos “little men”, anunciando a futura reversão dos cortes de impostos aprovados por Trump para as grande empresas e reformas fiscais “que finalmente garantirão que os americanos mais ricos paguem a sua parte justa”. Isto pode até ser verdade e justo, mas é prudente aguardar pelas medidas concretas no domínio fiscal. Tenho algumas dúvidas que a realidade venha a ser exatamente assim, porque, como sabemos, foi a sua candidatura e não a de Trump aquela que recebeu maiores donativos, precisamente vindos de Wall Street e das grandes empresas que agora critica.
Este “novo contrato social” que Biden afirma pretender estabelecer não deverá, quanto a mim, ser assente num discurso divisivo e culpabilizante, mas sim dinamizado por uma missão caracterizada pela inclusividade, que consiga sarar as feridas de uma América profundamente dividida por um grande fosso: tão sociológico, quanto ideológico.
Como democrata-cristão, quero que os EUA beneficiem de um novo ímpeto reformista, mas ancorado na conciliação, na moderação e na criação de pontes para o entendimento e a moderação de que as pessoas, mas também os mercados, tanto necessitam.
Especialistas na desmistificação com base científica, Carlos Fiolhais e David Marçal abordam neste livro, ‘Apanhados pelo Vírus’, os mitos e a crenças em torno do SARS-CoV-2 e da Covid-19. Como eles dizem: “Os teóricos da conspiração fizeram prova de vida, espalhando os mais incríveis disparates, como a associação do vírus às radiações 5G. À pandemia da Covid-19 juntou-se uma infodemia: ficámos inundados de desinformação”. A ler, para desfazer as confusões.
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