A construção, contribuindo para 13% do PIB e 7% do emprego, é um dos mais importantes drivers da economia mundial.

Não obstante, trata-se de uma indústria altamente fragmentada, resultado de reduzidas barreiras à entrada, falta de economias de escala, elevada customização dos produtos e serviços, e diversidade de necessidades e exigências. Por efeito, as empresas têm reduzido poder negocial e frequentemente adotam estratégias centradas no preço, diminuindo a sua rentabilidade. Mais recentemente, a escassez de mão-de-obra especializada e o aumento dos custos de construção têm sido também desafios maiores a considerar.

Estes fatores têm gerado várias questões ao nível da qualidade, segurança e, principalmente, produtividade, cuja taxa média anual de crescimento para a construção nos últimos 20 anos foi de apenas 1%, contra 3% a nível global. Esta situação ganha relevância acrescida quando se prevê, com o rápido crescimento da população mundial, a necessidade de construir mais de 10 000 edifícios por dia até 2050, incluindo as respetivas infraestruturas, e a reforma de pelo menos 35% da atual força laboral até 2030.

Juntando a estes fatores um potencial de automação da indústria avaliado em cerca de 50%, surge então o conceito de quarta revolução industrial aplicada à construção (ou Construção 4.0), que, assente na transformação digital, passa inevitavelmente pela implementação da metodologia denominada de Building Information Modeling (BIM).

O BIM é fundamentalmente uma abordagem melhorada à conceção, produção e operação, utilizando um modelo digital 3D único e normalizado para cada obra, nova ou antiga, que contém toda a informação criada ou reunida sobre essa obra num formato legível por todos os intervenientes ao longo do seu ciclo de vida. Promove assim a integração da cadeia de valor da construção, incrementando a sua eficiência, eficácia e sustentabilidade, por meio da colaboração, normalização e desmaterialização de processos.

Esta metodologia tem vindo a tornar-se uma realidade a nível global, destacando-se na Europa países como Alemanha, Espanha, França e Reino Unido, que já tomaram medidas de incentivo à adoção desta metodologia a nível nacional, incluindo o desenvolvimento de legislação e normas. Casos como os do Reino Unido, Noruega e Finlândia foram ainda mais longe, ao tornar a implementação BIM obrigatória para projetos públicos.

O BIM é assim uma evolução necessária, estimulada agora com o impulso da pandemia para a transformação digital, mas que não acontece sem significativas adaptações de processo e de mentalidade, num setor que se caracteriza como sendo tradicionalista e relativamente resistente à mudança.

A gestão da mudança para a implementação desta abordagem inovadora deve acontecer em quatro níveis chave: indústria, organização, ativo e projeto.

Ao nível da indústria deverá ser adotada uma abordagem top-down, em que a ação governamental cria sistemas de incentivo, estabelece normas e regulação, e define ambientes colaborativos. Isto pode incluir, por exemplo, o financiamento de empresas e centros de investigação e alterações legislativas no âmbito da consulta e contratação de projetos e obras, assim como promover a colaboração entre universidades e empresas.

A mudança ao nível organizacional deverá iniciar com o apoio da gestão de topo, passando por iniciativas intra e inter-organizacionais, até atingir um estágio de melhoria contínua. Isto requer formação e qualificação, além da adoção das tecnologias mais adequadas aos níveis de maturidade e às necessidades do negócio e do mercado.

Ao nível do ativo e do projeto deverão ser definidos os requisitos contratuais e incentivos financeiros apropriados para promover a colaboração entre as equipas de conceção-produção-operação, mitigando assim riscos como os que resultam da heterogeneidade e falta de competências e capacidades, que tendencialmente incrementam a resistência à mudança.

Apesar de o BIM ser reconhecido como um eixo estratégico da (r)evolução 4.0 na construção, ainda não é a panaceia que a indústria tem vindo a procurar. A falta de normalização específica; a escassez de recursos humanos reunindo conhecimento e experiência combinada em BIM e na indústria da construção; a dificuldade em definir objetivos SMART (“specific, measurable, actionable, relevant and timely”); e a complexidade em realizar análises custo-benefício, recorrendo ao conceito de custo de oportunidade, baseadas em potenciais erros, omissões, incompatibilidades e outras ineficiências, são alguns dos desafios mais significativos, além da natural resistência humana.