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‘Bird strikes’ custam 200 milhões às companhias aéreas

Em Portugal, as colisões entre pássaros e aviões estão a aumentar. Em 2023 registaram-se 746 casos, com custos significativos para as transportadoras a operar em território nacional.
23 Maio 2025, 12h00

Primeiro um estrondo, depois o cheiro a fumo e o aviso do comandante de que iam tentar aterrar de emergência. Escassos minutos após a descolagem, o Airbus A320 da US Airways, com 150 passageiros e cinco tripulantes a bordo, estava a aterrar no rio Hudson, em Nova Iorque. Passado em 2009, este é um dos exemplos mais famosos de bird strike, ou seja, colisão entre pássaros e aviões. Neste caso, os dois motores do Airbus ficaram inoperacionais e só a experiência e sangue-frio do piloto contribuíram para o caso que ficou conhecido como o “Milagre de Hudson”. Estes acidentes ocorrem principalmente durante as descolagens, aterragens ou a baixas altitudes, onde as rotas dos aviões coincidem com as zonas de voo dos pássaros. “Não é algo que acontece só nos filmes, mas diariamente em qualquer ponto do globo. De hora a hora verifica-se um impacto com pássaros considerando a Europa, os Estados Unidos, a China e a Austrália”, diz Luís Santos, professor do Instituto Superior de Educação e Ciências (ISEC) e doutorado em engenharia aeronáutica, ao Jornal Económico.

De acordo com dados da European Aviation Safety Agency (EASA), Portugal está na linha da frente dos países com maior número de bird strikes. Com 2780 casos, entre 2019 e 2023, ocupa a quarta posição do ranking europeu. Os cinco aeroportos portugueses com mais casos, por ordem decrescente são Porto, Lisboa, Faro, Ponta Delgada e Funchal. A hora em que se regista mais colisões (10%) é entre as sete e as oito da manhã. Em relação às espécies que mais chocam com aviões são a andorinha comum, os papagaios, as gaivotas, os pombos e as andorinhas dos beirais.

“Só em 2023 aconteceram 746 casos em Portugal, estimando-se um impacto direto (reparações) na ordem dos 20 milhões de euros para as transportadoras a operar em território português”, explica Luís Santos, tendo por base os valores apresentados pela indústria norte-americana da aviação (cinco mil milhões de dólares entre 1990 e 2018). Segundo o especialista, se tivermos em conta os custos indiretos, como o cancelamento dos voos, os procedimentos de emergência e os atrasos, a fatura pode atingir um mínimo de 10 vezes mais, estimando-se que ronde os 200 milhões de euros.

“Estes custos reduzem o retorno económico das companhias aéreas e exercem pressão sobre as margens de lucro dos aeroportos, transportadoras e passageiros. Todos sofrem o impacto à medida que os atrasos e os cancelamentos se propagam através do tempo, causando transtornos operacionais e diminuindo a satisfação do cliente”, sublinha o professor do ISEC. Por exemplo, retirar o motor do avião, enviá-lo para a oficina, reparar as partes danificadas e voltar a montá-lo custa entre um a dois milhões de euros. Estes danos acontecem mais regularmente no nariz e cockpit da aeronave, nas asas ou motores, pois são estas as partes mais expostas durante o movimento do avião.

Voltar para trás é a regra
Há vários fatores que influenciam a magnitude das colisões, como a a velocidade dos aviões, o número e o tamanho da aves. Os aeroportos atraem bastantes pássaros já que estas têm alimento, espaço e grandes áreas de vegetação com corte baixo que podem ser favoráveis para a procura de alimento e nidificação. Para diminuir a probabilidade de colisões são usados diferentes métodos – sons artificiais, falcoaria, canhões de ar e até buzinas.

“Há várias formas de perceber um bird strike. Se for da parte da frente, no nariz do avião ou nos visores, ouve-se logo o barulho e vê-se o sangue do pássaro. Nas asas é mais difícil, mas como os pilotos têm de fazer uma inspeção à chegada, há uma identificação visual do dano que é depois reportada. Nos motores pode haver alterações dos parâmetros como flutuações de potência ou pressão de óleo”, explica um piloto e membro da Associação dos pilotos portugueses de linha aérea (APPLA), que preferiu não ser identificado.

Se o choque com as aves for à chegada, a aterragem continua normalmente. O incidente é reportado e o aeroporto faz uma inspeção à pista. Se acontecer durante a descolagem, o caso é avaliado e caso não haja efeitos danosos o avião prossegue a viagem. O choque é reportado numa caderneta técnica e o aparelho inspecionado no destino. “Numa colisão com os motores é feito um briefing entre a tripulação e a manutenção para avaliar os danos. Por norma, quando existe um bird strike, volta-se para trás por razões de segurança”, acrescenta o piloto.

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