Temos todos assistido ao vivo e em directo à melhor série televisiva dos últimos tempos. Pensei mesmo em desligar a Netflix e a HBO, porque o canal de televisão ArTv passa a referida série gratuitamente e sempre com plot twists. Parece que a série vai para um lado e do nada somos surpreendidos com novos acontecimentos, surreais e que seriam divertidos se não fossem reais e sérios.

Estou a referir-me à comissão de inquérito parlamentar à TAP, que nasce da indemnização milionária à Alexandra Reis, mas que descolou para outros destinos, com outros pilotos, com outras rotas e que pôs a nu esta governança que nos desgoverna.

Por causa das revelações na CPI já caíram um ministro (por ter mentido sobre o conhecimento prévio da dita indemnização), um secretário de estado (por tentativa de peculato de um avião em proveito do PR), do presidente da CPI (por alegar pressões), pela maior crise institucional desde há sete anos, por termos um ministro zombie (palavras de Marques Mendes), por uma cena de pancadaria num ministério, pela utilização dos serviços secretos a actuar como polícia, alegando não existir crime e desmentindo o Primeiro ministro e um ministro.

Ou seja, temos o efeito borboleta que faz parte da teoria do caos. Por causa da indemnização de 500.000 euros temos o efeito caótico nas instituições. Um furacão!

Já escrevi detalhadamente sobre o erro original do modo e do timing na intervenção do governo na TAP, onde defendi que todos os stakeholders deveriam ter sido chamados ao sacrifício das suas posições jurídicas. Accionistas, credores, incluindo os bancos e as locadoras financeiras, os obrigacionistas, sobretudo o da Azul, os trabalhadores e por fim os contribuintes, no âmbito de um processo de revitalização, resultando uma nova companhia, mais pequena, capitalizada, em paz social, que servisse a diáspora e que actuasse no mercado concorrencial.

Foi tudo feito ao contrário. Um rapaz, sem experiência profissional reconhecida, quis brincar aos aviões e pagou, com o nosso dinheiro, a um accionista estrangeiro, apelidado recentemente pelo seu sócio de especulador, 55 000 000 de euros e reduziu a pó o dito empresário português, sabendo que aquele tinha sobretudo investido dinheiro da Aribus que a TAP iria reembolsar no futuro.

A sua inquirição será o vértice da CPI e espero que lhe façam estas perguntas e o responsabilizem pelo maior roubo ao dinheiro dos contribuintes de que há memória! E, lamentavelmente, se se fizessem comissões de inquérito à Efacec, à CP, ao IP, à Transtejo ou a qualquer outra empresa pública, juraria que se descobririam episódios semelhantes aos da TAP. Ao contrário do que disse António Costa, empresas públicas são empresas políticas.

Enquanto escrevo esta linhas, vamos ouvir um tal de Frederico Pinheiro, oriundo do bloco de esquerda, que no tempo da gerigonça arranjou um emprego para si e para a sua mulher nos gabinetes ministeriais do PS, o qual alegadamente se negou a esconder da CPI umas notas sobre uma reunião de preparação da ex-CEO da TAP com o grupo parlamentar do PS para responder aos deputados dos outros partidos, que alegadamente andou à pancada com três senhoras, que alegadamente terá sido sequestrado num ministério, que alegadamente terá furtado, roubado ou simplesmente utilizado o seu computador quando ainda não tinha sido formalmente exonerado (só o tinha sido por telefone) e que o SIS optou por esta última hipótese.

Sobre a intervenção do SIS e a paródia deste país. Recebem uma chamada telefónica de uma Eugénia, chefe de gabinete de um ministro, que alega um furto de um computador com informação classificada (como se o plano de reestruturação da TAP merecesse essa qualificação), fazem tábua rasa da incompetência desse senhora para iniciar uma intervenção do SIS, da sua própria lei habilitante e falam ao tal FP para o instar – não coercivamente – para entregar na rua o tal aparelho.

Consigo imaginar a conversa: está lá, falar o Senhor FP? Sim. Daqui fala o SIS e sabemos que o Senhor está na posse de um computador que não lhe pertence, mas que não foi furtado ou roubado porque se o tivesse sido não podíamos intervir. Importa-se de vir à rua entregá-lo? É que nós não podemos invadir a esfera privada dos cidadãos e se for na rua tudo bem. FP claramente não se sentiu atemorizado porque quem é que se sentiria coagido quando recebe uma chamada dos serviços secretos? Lá em casa, sempre que recebemos um telefonema do SIS respondemos: vocês nem polícia são, vão passear macacos…

Ou muito me engano ou ainda teremos mais um ministro demitido e a chefia do SIS decapitada por causa deste blockbuster.