O interesse pelas criptomoedas está a ganhar cada vez mais ímpeto – e também a criação de ideias muito interessantes, como por exemplo, métodos de pagamentos baseados em tokens. Estamos a assistir ao impulsionamento do mercado na direção da derradeira disrupção por várias organizações: desde a Diem (antiga Libra), que quer criar um sistema financeiro global, até à VISA, que possibilita transferência de valor em mais de 170 países, passando pela emergente Anchorage – o primeiro banco de ativos digitais do mundo.
Isto é possibilitado por avanços na tecnologia de cadeia de blocos (diga-se, blockchain), e em serviços construídos por cima desta. Estes avanços, como escalabilidade e interoperabilidade, são questões predominantemente técnicas na sua natureza. É de recordar que a blockchain não serve apenas para pagamentos – mas pode também ser um computador descentralizado, que permite criar os tais métodos de pagamento baseados em tokens que correm complexa lógica de negócio.
Portanto, é lógico que o potencial para novos sistemas financeiros terem um impacto positivo é agora ponderado por governos e empresas, com uma aplicação prática em vista: a produção de uma moeda digital gerida por bancos centrais (central bank digital currency, ou CBDC). Um dos exemplos que poderá ser realidade em meia dúzia de anos é o euro digital.
O euro digital seria uma versão “tokenizada” de moeda fiduciária, gerido por uma autoridade central (isto é, um banco central) e portanto seria regulada à luz da legislação atual. Para possibilitar este tipo de abordagem, há que ter não só blockchain, mas também sistemas de pagamento que consigam falar com a blockchain e com os utilizadores finais.
Num artigo científico datado de 14 de dezembro de 2020, “Towards a Two-Tier Hierarchical Infrastructure: An Online Payment System for Central Bank Digital Currencies”, a VISA propõe um sistema de pagamentos offline, que é apropriado para ser a infraestrutura das CBDC.
A ideia deste sistema é permitir pagamentos de pessoa para pessoa, sem terceiros envolvidos, num ambiente que até pode nem ter conexão à Internet. Isto permite fazer coisas muito interessantes e, em teoria, suportar criptomoedas. Mais dia, menos dia, poderá o leitor pagar com Bitcoin, Ether, ou uma moeda gerida por uma blockchain privada através da VISA – talvez a blockchain do Banco de Portugal, ou a blockchain do Banco Central Europeu.
A realidade de um euro digital, e da ubíqua tokenização de bens está cada vez mais próxima, complementando as criptomoedas e abrindo mercados completamente novos. Isto torna-se um autêntico jogo de gigantes, no qual cada um se está a tentar posicionar da melhor maneira para 1) providenciar infraestrutura para realizar estes casos de uso; 2) providenciar serviços financeiros que usa a infraestrutura existente; 3) providenciar canais de pagamentos que conectam utilizadores a infraestruturas. A realização deste ecossistema só é possível se aliarmos esforços de investigação em blockchain, e a sua interseção com a parte legal e financeira.
Veremos resultados palpáveis, muito em breve, de mais uma etapa da revolução da blockchain, com todas as oportunidades de melhorar o statu quo que esta traz.